Se Lula e Dilma Rousseff ainda tinham guardadas algumas doses de resistência para enfrentar a grave crise que avança sobre o Palácio do Planalto, na noite desta terça-feira (22) o estoque será insuficiente para eventualmente minimizar alguns dos novos efeitos colaterais da Operação Lava-Jato. Isso porque a Operação Xepa (26ª etapa da Lava-Jato) acabou atingindo o objetivo esperado pelos investigadores.
A Odebrecht enviou à força-tarefa da Lava-Jato um pedido coletivo de acordo de delação premiada para todos os dirigentes da empreiteira e suas controladas, incluindo nesse rol o presidente afastado Marcelo Bahia Odebrecht, preso desde junho de 2015 e já condenado a mais de dezenove anos de prisão.
Essa estratégia era defendida pelo empresário Emílio Odebrecht, pai de Marcelo Odebrecht, que há muito vinha insistindo para que o filho aderisse à colaboração premiada. A decisão foi anunciada depois de a Operação Xepa ter promovido uma devassa na Odebrecht e identificado uma central de pagamento de propinas com requintes de organização criminosa. Diante do potencial explosivo do material apreendido pelos policiais, a empreiteira “jogou a toalha”.
Em nota, a empresa afirma: “As avaliações e reflexões levadas a efeito por nossos acionistas e executivos levaram a Odebrecht a decidir por uma colaboração definitiva com as investigações da Operação Lava Jato. Esperamos que os esclarecimentos da colaboração contribuam significativamente com a Justiça brasileira e com a construção de um Brasil melhor.”
Traduzindo, a Odebrecht reinou absoluta no reino da roubalheira, mas diante da possibilidade de seu presidente afastado (Marcelo Odebrecht) passar pelo menos uma década atrás das grades em regime fechado, a empresa decide revelar o que sabe. Não se trata de “bom mocismo” de ocasião, mas de interesse em preservar um negócio que foi devorado pela corrupção.
Enquanto a empreiteira nadava de braçada no mar das propinas, Marcelo Odebrecht chegou a afirmar, em entrevista, que não via problema no fato de a iniciativa privada interferir nos assuntos de Estado e de governo. Ou seja, àquela altura o crime compensava, mas bastaram alguns policiais portando mandados de prisão para que os alarifes mudassem de ideia.
A delação premiada dos executivos da Odebrecht é mais um ingrediente explosivo no cotidiano do Palácio do Planalto, pois muitos políticos poderão ser presos a partir do que for revelado à força-tarefa. É importante destacar que se os eventuais delatores não revelarem fatos novos, o acordo de colaboração premiada fracassará. De tal modo, a essa altura é grande o número de assessores que em Brasília estão à caça de ansiolíticos e outros medicamentos indutores do sono.
Não se pode esquecer que por ocasião da prisão de Marcelo Odebrecht, o pai do empresário teria dito, em tom de ameaça, que na segunda-feira subsequente o governo não funcionaria e que seria necessário construir duas celas especiais para abrigar Dilma e Lula. Diante da repercussão da suposta ameaça, Emílio Odebrecht negou ter feito tal afirmação.