Ciente de que o governo da companheira Dilma Rousseff está por um fio, o quase ministro Lula – milionário lobista-palestrante – cometeu um erro grave ao conduzir de forma pontual a negociação com o Partido Progressista, o enrolado PP, na tentativa de barrar o processo de impeachment no plenário da Câmara dos Deputados.
Autorizado pelo Palácio do Planalto a distribuir cargos, dinheiro e outros mimos, Lula falhou ao tratar do assunto apenas com o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), que na Câmara controla um grupo pequeno e fechado de parlamentares nada republicanos, adeptos do banditismo político.
Com 47 deputados e quarta maior legenda da Câmara, o PP pressiona Ciro Nogueira a romper com o governo no momento em que o Planalto colocou a sigla no radar das negociações para inviabilizar o impedimento da presidente da República. Nesse escambo criminoso, o Planalto havia oferecido o Ministério da Saúde, maior orçamento da Esplanada, e a Caixa Econômica Federal para o PP, que já comanda a pasta da Integração Nacional. O governo considerava que, com essa oferta, a maioria do partido apoiaria o governo na batalha do impeachment.
Nesta terça-feira (12), a bancada do PP na Câmara decidiu anunciar seu desembarque da base aliada do governo Dilma Rousseff e o apoio à abertura do processo de impeachment da presidente na votação prevista para o próximo domingo (17).
Aguinaldo Ribeiro (PB), líder do partido na Câmara e membro do “clubinho” capitaneado por Ciro Nogueira, reuniu-se na manhã desta terça com alguns deputados e definiu o anúncio. Apenas seis parlamentares não concordaram com o rompimento, entre eles o deputado federal Ricardo Barros (PP-PR), cotado para assumir o Ministério da Saúde.
Após a reunião, marcada para as 16 horas desta terça, Nogueira será comunicado oficialmente da decisão. No último domingo (10), nove diretórios estaduais já tinham fechado posição favorável ao impedimento, entre os quais os de SP, RS, PR, GO e MG.
Encontro secreto com Temer
Na última sexta-feira (8), o vice-presidente Michel Temer teve um encontro secreto, em São Paulo, com o presidente nacional do PP. O peemedebista não recebeu o senador em seu escritório. Segundo informações do jornal “O Estado de S. Paulo”, Temer e Ciro Nogueira estiveram juntos a convite de um amigo comum que pediu para não ser identificado. A reunião ocorreu dois dias após o presidente do PP anunciar que o partido permaneceria na base do governo.
Apesar de duas fontes confirmarem o encontro realizado na capital paulista, o senador negou ter se encontrado com o vice-presidente. “Isso não tem a menor veracidade. Nem me lembro a última vez que estive com ele. Acho que era articulador político do governo”, disse Ciro Nogueira.
Nos bastidores, contudo, Ciro sinalizou que pode levar o partido a apoiar o impeachment da presidente Dilma Rousseff se “fatos novos” surgirem até o fim da semana.
O senador Ciro Nogueira tem sido pressionado pela bancada do PP. Até agora, conforme enquete do jornal “O Estado de S. Paulo”, apenas nove dos 48 deputados do partido afirmam que votarão contra o impeachment. Vinte e cinco dizem que preferem a saída de Dilma do cargo – há oito indecisos e cinco não quiseram responder. No fim de semana, nove dos 24 diretórios da sigla anunciaram que vão defender voto contra a presidente.
Olho gordo
As negociações do governo com o PP fracassaram porque Lula acreditou que Ciro Nogueira seria capaz de convencer a bancada do partido na Câmara, mas não levou em conta o fato de que o presidente da legenda tem por hábito abandonar seus correligionários na hora de distribuir o produto dos escambos políticos.
Do grupo de Ciro Nogueira fazem parte os deputados Eduardo da Fonte (PE), Aguinaldo Ribeiro (PB), Arthur Lira (AL) e o senador Benedito de Lira (AL). Cabe a esse quinteto decidir como se dá a distribuição dos mimos decorrentes das negociatas com o Palácio do Planalto e outras mais no universo da ilegalidade.
Caso Nogueira tivesse pensado coletivamente no momento das negociações com Lula, incluindo na repartição das benesses todos os parlamentares da bancada do PP na Câmara, por certo o governo não perderia o apoio do partido em momento tão difícil.
Para a sorte dos brasileiros de bem, Ciro Nogueira foi guloso e pensou em proteger e beneficiar apenas o seu grupelho. Quem conhece os bastidores do Congresso Nacional sabe que o cenário aqui descrito é o retrato da realidade. Para se comprovar o que ora afirmamos, basta rastrear as denúncias no âmbito da Operação Lava-Jato que envolvem políticos do PP. A maioria dos denunciados recebeu quireras e está pagando por todo o milharal.