Entre as pedaladas e a roubalheira institucionalizada, Dilma tornou-se vítima da própria intolerância

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Há no âmago do governo de Dilma Vana Rousseff um equívoco no que tange à interpretação da Constituição Federal. Representada no processo de impeachment pelo advogado-geral da União, José Eduardo Martins Cardozo, a presidente da República entende que a consumação do seu impedimento representa uma ruptura constitucional. Esse é o novo mantra, com quireras jurídicas, que surgiu para substituir “impeachment sem crime é golpe”.

Dilma tem o direito de defender o próprio mandato e negar a autoria dos crimes que lhe são imputados, até porque a Carta Magna garante que ninguém é obrigado a produzir provas contra si (o Pacto de San José também abriga essa garantia), mas não se pode fechar os olhos para a ilegalidade descomunal das pedaladas fiscais, que o governo justifica com a tese de que os fins justificam os meios.

Enquanto parlamentares da base tentam “vender” a falsa ideia de que há pelo menos 200 votos garantidos contra o impeachment, o clima no Palácio do Planalto é de desolação. Isso porque os palacianos perceberam desde as primeiras horas de quinta-feira (14), como antecipou o UCHO.INFO, que fracassou a tentativa de barrar o processo de impedimento da presidente. A penúltima cartada, tentada no Supremo Tribunal Federal, a da suspensão do processo de votação do impeachment, foi descartada por 8 votos contra e apenas 2 a favor.

Mencionamos acima a palavra “penúltima” porque desse governo deve-se esperar tudo e mais um pouco. São profissionais quando o assunto é banditismo político, por isso tentarão virar o jogo até o último instante, mesmo que para tal sejam obrigados a perpetrar um golpe, algo que tanto condenam.

Às 20 horas desta sexta-feira (15), Dilma fará um pronunciamento à nação. E os brasileiros devem estar preparados, pois o partido que vem sendo comparado a uma organização criminosa pode dar um cavalo de pau na política brasileira. Muito tem se falado sobre a possibilidade de convocação de eleições gerais, mas para isso é preciso que governantes de todo o País renunciem, começando por Dilma Rousseff, que está a um passo de ser despejada da Presidência. Pode ser que Dilma fale à nação apenas e tão somente para dar uma satisfação aos brasileiros e, desse modo, tentar uma última jogada, mas é preciso cautela.

Petistas e integrantes da base aliada têm falado de forma exaustiva em terceiro turno, mas não é essa a realidade política nacional. No vácuo do processo de impeachment de Dilma Rousseff há o estrito cumprimento do que determina a legislação vigente. Essa cantilena de que os adversários não assimilaram os resultados das urnas de 2014 é balela de quem não tem mais ao que recorrer.


Em termos práticos a questão do impeachment ainda não pode ser considerada página virada, mas tudo indica que a brincadeira de Dilma de ser presidente está muito perto do fim. A petista não será apeada do poder porque há em marcha um golpe parlamentar, como alegam os aduladores da chefe do Executivo, mas porque desrespeitou a legislação ao cometer crimes de responsabilidade.

A presidente errou não apenas ao adotar as pedaladas ficais como regra, mas ao tratar o Parlamento com desdém e autoritarismo. Esse modelo de relacionamento só foi possível porque nos subterrâneos do poder avançava de forma deliberada o maior esquema de corrupção da História, o Petrolão, que garantiu ao governo, durante longos anos, apoio maciço e criminoso no Congresso Nacional.

Dilma não gosta e não sabe de fazer política, assim como detesta os atores políticos. E com essa receita não se consegue governar, a não ser que o modelo político remeta às mais bizarras ditaduras do planeta. Tratados à base de truculência, mas adulados em casos de extrema necessidade, no melhor estilo “mulher de malandro”, os políticos cansaram desse modo de governança. E foi na brecha aberta pelas pedaladas ficais que a classe política encontrou espaço para se rebelar e ejetar a presidente do seu gabinete.

Fosse minimamente esperta e como doses rasas de diplomacia, Dilma não estaria enfrentando um processo de impeachment que caminha na direção da aprovação. Na verdade, a presidente estaria a dialogar com seus pares e principalmente com opositores na busca de uma solução de consenso que pudesse tirar o Brasil do atoleiro. Ao contrário, crente que á uma versão moderna e de saias de Aladim, Dilma só decidiu ouvir o próprio entorno quando o jogo já estava perdido. E nessa situação não há o que fazer, a não ser chorar e lamentar.

Ao longo da vida aprende-se com os erros, mas é preciso fazer deles uma plataforma para acertos futuros. Dilma é míope, não enxergando além do próprio ser, e acredita na centralização de decisões. Quando deu autonomia aos asseclas, a corrupção correu solta até o ponto de inviabilizar o País em termos de governança. De tal modo, por precaução, é melhor chamar o caminhão de mudança.

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