O primeiro-ministro da Turquia, Ahmet Davutoglu, anunciou nesta quinta-feira (5) que deixará o cargo, em meio a crescentes diferenças com o presidente Recep Tayyip Erdogan. “Decidi que para a unidade [do partido governista AKP] seria mais apropriada uma mudança na liderança. Não vou concorrer na convenção do dia 22 de maio”, afirmou, referindo-se ao congresso extraordinário da legenda, que elegerá um novo líder.
Davutoglu será provavelmente substituído no AKP, partido no poder há 14 anos, por um nome mais leal a Erdogan, cuja ambição de transformar o sistema parlamentarista por um presidencialista abriu uma crise no governo turco.
Nas últimas semanas, Davutoglu entrou em rota de colisão com Erdogan. O primeiro-ministro vinha adotando uma postura autônoma e moderada em relação à figura do presidente em diversos temas, enquanto o estilo de governar de Erdogan se tornava cada vez mais autoritário.
Após se eleger presidente em 2014, Erdogan apontou Davutoglu para sucedê-lo no cargo de primeiro-ministro, relegando-o a um papel secundário enquanto a presidência, tradicionalmente de caráter cerimonial, se tornava a posição mais poderosa do governo.
Davutoglu defendia a retomada do processo de paz entre o governo e o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), caso o movimento separatista curdo removesse seus combatentes do território turco. Erdogan, porém, disse que isso estava fora de questão, e assegurou que as operações militares continuariam até que a ameaça do PKK estivesse completamente eliminada.
O primeiro-ministro se opôs às detenções de jornalistas e acadêmicos acusados de apoiar o PKK. Erdogan reagiu, afirmando que qualquer um que expressar apoio aos extremistas deveria ter sua cidadania revogada.
Apesar das divergências, Davutoglu disse que não vai renunciar como membro do partido e jurou lealdade a Erdogan. “Não sinto ódio ou ressentimento por ninguém”, afirmou. (Com agências internacionais)