O Brasil vive a pior crise de sua história, mas não tão cedo esse quadro será revertido, pois a classe política está preocupada em seus próprios interesses. É fato que o governo do presidente interino Michel Temer (PMDB) não é o melhor dos cenários, mas, como prega a sabedoria popular, “é o que temos para hoje”. Não se trata de conformismo, mas de saber que a mudança que o Brasil tanto necessita terá de ser implementada por capítulos, já que uma manobra brusca levaria o País a crise ainda pior e irreversível.
No momento em que todos os segmentos da sociedade deveriam unir-se para, em esforço concentrado e coletivo, virar o jogo, deputados federais preferem apostar no fisiologismo imundo a ajudar o Brasil a sair do atoleiro da crise.
No vácuo do processo de impeachment, que agora tramita no Senado e já afastou Dilma Rousseff temporariamente do cargo, os chamados partidos “nanicos” e os do centrão, que tiveram participação importante no processo de impedimento da presidente da República, agora se unem para pressionar Michel Temer.
Nesta quarta-feira (18), treze partidos (PP, PR, PSD, PRB, PSC, PTB, Solidariedade, PHS, PROS, PSL, PTN, PEN e PTdoB) formam um bloco partidário com 225 deputados federais, o maior da Câmara, que tem 513 parlamentares. O que de chofre parece ser uma garantia à aprovação de matérias do interesse do governo, em segundo momento mostra-se uma afiada faca no pescoço de Temer. O que significa um cipoal de reivindicações parlamentares nem sempre republicanas.
O novo bloco partidário surgiu a partir das ações de bastidor de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente afastado da Câmara dos Deputados e cujo mandato parlamentar está suspenso por determinação do Supremo Tribunal federal (STF). Agindo como verdadeiro chefe de organização criminosa que mesmo preso opera desde o cárcere, Cunha continua dando ordens na Câmara.
O panorama que se desenha na Câmara dos Deputados é tão perigoso, que o “Centrão” trabalha para emplacar André Moura (PSC-SE) como líder do governo na Casa legislativa. Nada contra Moura, mas o deputado sergipano é o principal aliado de Eduardo Cunha, de quem Michel Temer tem procurado se distanciar. O segundo objetivo do grupo é interferir na proposta de legalização dos jogos de azar no País.
O antídoto para esse agrupamento de deputados está sendo preparado pelo Palácio do Planalto, que trabalha para que o PMDB participe do chamado “Centrão”. Se isso acontecer, o bloco passaria a contar com 293 integrantes.
A grande questão é que o escambo criminoso, que sempre marcou a política brasileira, há de continuar. Respeitando o prega a Constituição Federal de 1988, o governo interino de Michel Temer é o que se pode chamar de cenário “menos ruim”. A partir de agora, a pressão, que até então estava direcionada a Temer, deve ser sobre os deputados, os quais podem transformar o Brasil em terra arrasada