No mais recente protesto contra o impeachment de Dilma Rousseff, na Avenida Paulista, em São Paulo, Lula disse que não havia no País uma autoridade mais honesta do que ele. É fato que no Brasil a democracia garante a livre manifestação do pensamento, mas os desdobramentos da Operação Lava-Jato mostram que o lobista-palestrante é um especialista em farsa.
Investigadores da Lava-Jato apreenderam na casa de um funcionário da OAS uma agenda com o registro das reuniões, almoços e jantares com políticos do presidente da empreiteira, José Adelmário Pinheiro, conhecido como Léo Pinheiro.
Nas anotações constam encontros, a maior parte deles em hotéis de Brasília, com o ex-presidente Lula, os ex-ministros José Dirceu e Gilberto Carvalho e com Charles Capela de Abreu, o ex-assessor da presidente Dilma Rousseff. Todos são investigados pela Procuradoria-Geral da República.
A agenda foi encontrada durante as buscas que tinham como alvo Marcos Paulo Ramalho, o funcionário da OAS e secretário de Léo Pinheiro, em meados de abril. Na agenda há registros também de encontros com parlamentares como Rodrigo Maia e Jutahy Magalhães, alvos de pedidos de investigação do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
Listado pela Polícia Federal entre os itens recolhidos nas buscas da Operação Vitória de Pirro – em que Léo Pinheiro é acusado de associar-se ao ex-senador Gim Argello para comprar parlamentares integrantes da CPI das Petrobras, em 2014 -, o caderno preto com o nome da OAS em relevo na capa guarda ainda os registros de encontros com outros políticos, como Onyx Lorenzoni, Índio da Costa e Paulo Skaf – presidente da FIESP e candidato derrotado ao governo de São Paulo pelo PMDB.
Léo Pinheiro – preso em 14 de novembro de 2015, alvo da 7ª fase da Lava-Jato (Operação Juízo Final) e condenado pelo juiz federal Sérgio Moro – negocia com a força-tarefa um acordo de delação premiada. Sua rotina de encontros com políticos poderosos faz parte dos itens que a Procuradoria quer que o empresário detalhe.
As anotações do secretário de Léo Pinheiro surgiram após ele ser mandado para casa para cumprir prisão cautelar, por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF). Alguns dos nomes registrados são alvos de inquéritos ou pedidos de investigação feitos pela PGR.
Na mesma agenda estão os encontros de Léo Pinheiro, a maioria em abril e maio de 2014, com outros presos da operação, como o ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, e o lobista Julio Gerin Camargo, delator em alguns processos. Ele confessou ter atuado em parceria com Léo Pinheiro para blindar empreiteiras na CPI da Petrobras.
Há ainda nomes que não havia sido citados, de partidos como o PSDB, como o do deputado federal Jutahy Júnior (PSDB-BA). Ele afirmou que o encontro foi agendado a seu pedido. “Esteve comigo, da mesma forma que esteve comigo em 2010 e 2012”. Jutahy Júnior disse que na ocasião foi acerta da contribuição de R$ 600 mil para sua campanha e para campanhas de deputados estaduais na Bahia. Desse valor, apenas a primeira parcela de R$ 300 mil foi paga, em agosto.
Outro nome que aparece na agenda de reuniões de Léo Pinheiro é o ex-deputado federal do Alfredo Sirkis (PSB-RJ), um dos principais articuladores das campanhas de Marina Silva, em 2010 e 2014 – quando ela assumiu a disputa no lugar do ex-governador Eduardo Campos, morto em desastre aéreo durante a disputa eleitoral.