O falso moralismo que há décadas impera na política nacional começa a desmoronar. Assunto que não chega a ser novidade para quem conhece os bastidores do poder. Ex-deputado federal pelo PP de Pernambuco, condenado à prisão na Ação Penal 470 (Mensalão do PT) e preso na esteira da Operação Lava-Jato, Pedro Corrêa foi abandonado pelos correligionários e decidiu não deixar pedra sobre pedra.
Nos depoimentos de colaboração premiada, no âmbito da Lava-Jato, Corrêa tem revelado às autoridades um cipoal de informações que por certo provocará estragos consideráveis no Partido Progressista, legenda que tem o maior número de investigados no Petrolão – são 26 –, e em outras agremiações políticas.
Confirmando notícia do UCHO.INFO, que sempre questionou o fato, Pedro Corrêa acusou o ex-presidente nacional do PP, Francisco Dornelles, governador em exercício do Rio de Janeiro, de ter recebido R$ 9 milhões em propina, dinheiro desviado do esquema de corrupção que funcionou durante uma década na Petrobras. Afinal, Dornelles foi comandante do PP no auge da roubalheira que derreteu a estatal.
Contudo, uma das acusações mais devastadoras foi a de que o deputado federal Celso Russomanno, hoje no PRB, teria sido beneficiado por uma espécie de mesada, paga regiamente por José Janene, já falecido e mentor intelectual do Petrolão. “Celso Russomanno recebia mensalão. Era um dos que o partido dividia as propinas, recebendo os recursos de José Janene”, afirmou Corrêa em depoimento.
Ainda de acordo com o delator, Russomanno “era famoso em solicitar vantagens indevidas a empresários utilizando a televisão como forma de intimidar e ameaçar”.
Corrêa afirmou que Russomanno utilizava a comissão de defesa do consumidor, a qual presidiu algumas vezes, para fazer requerimentos e, assim, pressionar e chantagear empresários.
“Certa feita, tentou extorquir Fernando Santos (filho de João Santos, dono do grupo de cimentos Nassal), amigo do Colaborador, mas o requerimento de sua convocação foi indeferido, porque o Colaborador tratou de mobilizar votação em sentido contrário ao requerimento”, destaca trecho de um dos setenta anexos da delação de Pedro Corrêa.
Por outro lado, o deputado Celso Russomanno, que é candidato à prefeitura de São Paulo, afirmou em nota que sempre foi adversário de José Janene e que são levianas as acusações. É importante lembrar que a delação de Corrêa ainda não foi homologada, mas qualquer informação inverídica ou sem procedência pode colocar a perder o acordo de colaboração. Ou seja, Pedro Corrêa sabe o que fala.
A afirmação de Corrêa sobre distribuição de propinas não causa espanto àqueles que acompanharam a política brasileira durante o Mensalão do PT e o Petrolão. Nesse período, um dos mais acintosos da história política brasileira, parlamentares participavam de negociatas de com tranquilidade e recorrência, sempre externando poderio financeiro muito além das suas posses e salários.
Conhecido por sua petulância, Janene, que foi líder do PP na Câmara, sempre teve o dinheiro como solução para todos os problemas, exceto para a morte. Tanto é assim, que quando questionado sobre dificuldades na política, não hesitava em, com as mãos sobre o peito, esfregar repetidas vezes os dedos indicadores nos polegares, como se quisesse dizer que o dinheiro comprava e resolvia tudo.
Quando o Conselho de Ética da Câmara abriu processo contra Janene por quebra de decoro parlamentar, em virtude de envolvimento no escândalo do Mensalão do PT, a sua não intimação pelo colegiado custou muito dinheiro. Foi à sombra dessa manobra espúria que José Janene escapou do Conselho de Ética e da consequente cassação do mandato, garantindo sua aposentadoria por invalidez, já que o “Xeique do Mensalão” sofria de cardiopatia grave.