Em Brasília, a capital dos brasileiros, pelo menos um alarife torce para que o Partido dos Trabalhadores aceite a ideia de admitir participação no maior esquema de corrupção de todos os tempos, o Petrolão, que derreteu os cofres da Petrobras e de outras estatais e órgãos federais. Trata-se de um empresário de nome Alceu, que durante longo período foi sócio do ex-deputado federal André Vargas Ilário nos subterrâneos do poder central.
Preso desde abril de 2015 na esteira da Operação Lava-Jato, André Vargas foi condenado à prisão por corrupção e lavagem de dinheiro, crimes cometidos à sombra de fraudes contra a Caixa Econômica Federal e o Ministério da Saúde por meio de campanhas publicitárias superfaturadas, todas a cargo do publicitário Ricardo Hoffmann, que também foi apanhado e preso pelas autoridades.
Vargas, José Dirceu e João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT, estão presos no Complexo Médico-Penal de Pinhais, na Grande Curitiba, e defendem que o partido assuma ter participado do assalto aos cofres públicos. Isso evitaria que o trio aderisse à delação premiada, mas implodiria legenda. Por outro lado, admitir participação na roubalheira colocaria Lula mais próximo de eventual mandado de prisão, algo que assusta a cúpula petista.
O efeito do cárcere é devastador e contagiante, o que explica a insistência do trio em defender a mencionada tese. O enigma nesse cenário tem dois pilares. O primeiro deles é João Vaccari Neto, cuja família pressiona para que ele opte pela colaboração premiada, uma vez que o ex-tesoureiro foi abandonado pelos “companheiros”. Algo comum na órbita petista. O segundo pilar do enigma é José Dirceu, que continua calado de forma quase obsequiosa, mas pode ser contaminado pela pressão da família de Vaccari. Afinal, o ex-chefe da Casa Civil tem 70 anos de idade e foi condenado, no âmbito da Lava-Jato, a mais de duas décadas de prisão.
Nesse embalo, André Vargas poderá também optar pela delação premiada, decisão que de alguma maneira esclareceria outros crimes cometidos no âmbito do governo federal. E a reboque surgiria o empresário brasiliense (Alceu), que desde a prisão de Vargas está recolhido e dificilmente aparece em público. Ao contrário da vida agitada que o dinheiro imundo patrocinava, Alceu agora limita-se a passar os dias na cara e confortável mansão à beira do Lago Sul, em Brasília, depois de ter saído às pressas de um confortável e amplo apartamento de cobertura no Setor Noroeste da capital federal.
Uma devassa da Polícia Federal nos contratos firmados com a Caixa, o Ministério da Saúde e o Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) na área de informática certamente exporá um esquema criminoso jamais visto. E de quebra arrastará ao olho do furacão uma das maiores empresas de informática do planeta, além de mandar o empresário brasiliense para fazer companhia a André Vargas.