(*) Percival Puggina
Surpreende a muitos a captura de peixes de bom tamanho, daqueles que autorizam tirar retrato para registrar o feito, enquanto o realmente grandão, o líder do cardume, continua nadando, em pouco espaço, bem contido, mas nadando.
Na operação Lava Jato, Lula é a joia da coroa. É aquilo que os franceses chamam pièce de résistance quando querem se referir à parte mais significativa de um evento ou ao prato principal de um cardápio. Atos e pratos assim têm hora certa de acontecer e nunca é na abertura ou no meio da apresentação ou do serviço.
Por outro lado, o trabalho da força-tarefa instalada em Curitiba usa intensa e indispensavelmente a colaboração premiada. É o preço a pagar pela desarticulação da rede criminosa, apuração dos feitos e das provas para gerar processos que levem à condenação dos culpados. É algo que necessariamente se desloca de baixo para cima na estrutura da organização criminosa. Quando Sérgio Machado vai para prisão domiciliar em sua mansão, essa “condenação” é um prêmio por agregar informações importantes para a investigação no andar superior. E assim sucessivamente.
A prisão de Lula, por outro lado, exige um pacote de provas que desautorizem reações como as que se seguiriam à sua prisão por motivos que não viessem a ser reconhecidos como graves, densos e suficientemente comprovados. Neste momento, por exemplo, estão em curso as colaborações premiadas do ex-marqueteiro petista João Santana e sua mulher. Segundo o site Diário do Poder, eles “já assinaram o documento que dá início ao processo formal de colaboração premiada. Mônica chegou a tentar o acordo individual em abril, mas os termos não foram aceitos pelos procuradores. O acordo com o casal é considerado ‘a delação do fim do mundo’, em razão das fortes ligações de João Santana com os ex-presidente Lula e Dilma Rousseff, cujas campanhas eleitorais comandou.”
E mais, os dois marqueteiros não são os únicos detidos com intimidade no centro do poder que hora se dissolve no Brasil. Ontem (20/07), Renato Duque autorizou seu advogado a entabular negociações com o MPF.
(*) Percival Puggina é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de “Crônicas contra o totalitarismo”; “Cuba, a Tragédia da Utopia”, “Pombas e Gaviões” e “A Tomada do Brasil – Pelos maus brasileiro”. Integrante do grupo Pensar+ e membro da Academia Rio-Grandense de Letras.