Quem acompanha os Jogos Olímpicos já percebeu a enorme quantidade de lugares vazios nas arenas esportivas que servem de palco para disputas esportivas. A exemplo do que acontece com a transmissão das sessões do Senado e da Câmara dos Deputados em dias de quorum baixíssimo, as emissoras de televisão estão tomando o cuidado de operar com câmeras fechadas, o que impede que o telespectador consiga perceber os assentos não ocupados. Contudo, em determinadas arenas, esse “drible” tecnológico é impossível.
É fato que em algumas provas as arenas apresentam bom público, mas na média a presença ficou aquém do esperado. Isso porque os ingressos encalharam. O comitê organizador dos Jogos nega esse encalhe, mas não é preciso excesso de massa cinzenta para compreender que a grave crise econômica que varre o País é um dos fatores dessa baixa presença de público nas arenas olímpicas. Fora isso, a pouca intimidade do torcedor brasileiro com determinadas modalidades esportivas também pode ter contribuído para esse quase “apagão” de gente.
O diretor de comunicação da Rio 2016, Mário Andrada, afirmou nesta quarta-feira (10) que a venda de ingressos para a Olimpíada não registra encalhe. De acordo com Andrada, 82% dos ingressos foram vendidos, o que representa 5 milhões de entradas. Ainda há cerca de 1,1 milhão de bilhetes disponíveis, sendo que dias antes da abertura mais 1 milhão de ingressos foram colocados à venda.
“Na maioria dos casos, o público vê uma partida de brasileiros, sai para comer e não vê o resto. No caso do tiro com arco, também há lugares vazios. Crianças de projetos sociais ganharam lugares para algumas competições, mas não estão ali para ocupar estádio”, disse o dirigente, explicando que o rigor no controle de acesso às arenas e o tempo perdido nos locais de alimentação provocam parte desses “clarões”.
“Temos uma pesquisa feita com o público diariamente. Entendemos que, nos primeiros dias, as pessoas tiveram dificuldade de passar nas triagens das arenas. Tivemos um problema de demora para a alimentação. As pessoas sofriam para comprar a comida e demoravam a voltar. A tendência a ver lugares vazios é descendente”, afirmou o dirigente da Rio 2016.
Se o controle nos acessos aos locais de prova é rígido e complexo, os organizadores deveriam ter pensado em uma estratégia para evitar o congestionamento de pessoas à porta das arenas. Cientes de que muitos torcedores compraram mais de um ingresso para o mesmo dia, essa desculpa é inaceitável.
Em relação ao tempo perdido nos locais de venda de alimentos, a questão é a mesma: falta de planejamento estratégico. Aliás, as lanchonetes do parque olímpico têm sido alvo de reclamações diárias, começando por filas enormes e falta de produtos. Sem contar que os funcionários trabalham em jornadas que desrespeitam a legislação trabalhista e sem condições.
Mario Andrada tem o direito – e também o dever – de defender a Rio 2016, mas não se pode esquecer que o Comitê Olímpico Internacional (COI), diante dos muitos assentos vazios nos locais de provas, exigiu que os mesmos fossem ocupados por estudantes de escolas públicas. Em suma, na Olimpíada ou fora dela, o Brasil é e sempre será o país do faz de conta.