José Roberto Batochio integra o seleto grupo dos mais respeitados criminalistas do País, mas no caso de Lula e família o advogado tem colocado sua competência jurídica à prova. Ao recomendar que Marisa Letícia e Fábio Luís Lula da Silva, conhecido como Lulinha, não comparecessem ao depoimento na Polícia Federal marcado para a manhã de terça-feira (16), em São Paulo, Batochio o fez não porque trata-se de um direito (questionável) do intimado, mas porque um depoimento da dupla poderia ser devastador para o ex-metalúrgico.
O objetivo da PF era obter esclarecimentos sobre o sítio Santa Bárbara, em Atibaia, cuja propriedade Lula nega, e as reformas feitas no imóvel. Uma palavra de Marisa Letícia fora do script abriria um enorme flanco para viabilizar a prisão de Lula, já que as informações sobre a propriedade rural são desencontradas.
Enquanto Lula afirma não ser dono do tal sítio, o pecuarista José Carlos Bumlai, investigado e preso na Operação Lava-Jato, decidiu detonar Marisa. Bumlai afirmará à PF, em depoimento, que as reformas na propriedade rural foram iniciadas por ele a pedido de Marisa Letícia.
Bumlai dirá também aos policiais que a tal reforma seria uma surpresa da ex-primeira-dama para Lula, no sítio que, de direito, pertence a Fernando Bittar e Jonas Suassuna Filho, sócios de Lulinha. Ou seja, um amigo é acionado para assumir o controle de uma reforma-surpresa em imóvel que não pertence a quem encomendou as mudanças. No mínimo estranho.
A defesa de Lula alega que já está provado que o sítio é de propriedade de Bittar e Suassuna Filho e que ambos tinham recursos financeiros para adquirir o imóvel e custear as reformas, mas não é isso que afirmam os investigadores. E as provas colhidas ao longo das investigações desmentem Lula e seus defensores.
Por maior que seja a capacidade financeira de Fernando Bittar e Jonas Suassuna Filho, não há como explicar o fato de as obras da reforma – um puxadinho chique no sítio – terem sido assumidas por duas das maiores empreiteiras do País: Odebrecht e OAS. E há provas incontestes de que Lula sabia do esquema.
Na Operação Aletheia (23ª fase da Operação Lava-Jato), durante busca e apreensão no apartamento de Lula, em São Bernardo do Campo, policiais encontraram um contrato particular de compra e venda do sítio em nome de Lula, mas sem as assinaturas. Além disso, a PF encontrou notas fiscais relativas à aquisição de bens para o sítio. Ora, se o sítio é de Fernando Bittar e Jonas Suassuna Filho, as notas fiscais deveriam estar na posse de ambos, não na casa de Lula.
Em dialogo telefônico gravado com autorização da Justiça, Lulinha avisa ao caseiro do sítio, conhecido como “Maradona”, que o irmão de Fernando Bittar (Kalil) passará o dia na propriedade. Ora, se o sítio pertence a Fernando Bittar, ele deveria ter avisado o caseiro sobre a ida de Kalil ao imóvel.
Em grampo telefônico autorizado pela Justiça, a Polícia Federal interceptou uma animada conversa entre Kalil Bittar e Renata, nora de Lula (mulher de Lulinha). Durante diálogo, Kalil diz a Renata que “está na casa daquela acumuladora chamada Marisa Letícia”.
Kalil diz a Renata que “fez uma ‘limpa’ na geladeira do sítio, porque ela estava cheia de comida vencida, que foi comer um hamburguerzinho, mas que estava vencido desde antes da eleição de Dilma”.
O irmão de Fernando Bittar diz à nora de Lula que “abriu um vinho que deve ser muito caro, porque tem até número de série”, ao que Renata responde “que não tem problema”. Kalil afirma que “olhou no quarto da família, e que a arma que o presidente tem é uma lanterna”.
Pois bem, se o sítio é de Fernando Bittar, Kalil deveria ter telefonado ao irmão para relatar o que disse a Renata. Se o sítio é de Fernando, seu irmão deveria ter aberto a tal “garrafa numerada de vinho muito caro” sem preocupação. Se Lula tem um quarto exclusivo no sítio, o dono não é Fernando Bittar e muito menos Suassuna Filho, mas o petista-mor.
Se o tal sítio em Atibaia pertence realmente a Fernando Bittar e a Jonas Suassuna Filho, há muitos fatos mal explicados nesse imbróglio que deve terminar com a prisão de Lula. Jonas Suassuna teria brigado feio com Lulinha por ver seu nome enlameado na Operação Lava-Jato. Suassuna é dono de um grupo empresarial que atua no ramo de tecnologia da informação e hospeda (sic) Lulinha em um elegante apartamento em Moema, bairro caro da Zona Sul paulistana. Em conversas reservadas com amigos, Suassuna diz que “não suporta mais carregar Fábio nas costas”. Lulinha e Suassuna são sócios na Gamecorp.
A mulher de Suassuna, a empresária carioca Claudia Bueri, sempre foi dura e ácida crítica da relação muito próxima do marido com Lula e seus quejandos. Ou seja, a esposa de Jonas Suassuna não gosta da família de Lulinha, considerado um peso, mas o empresário cedeu um quarto do sítio ao ex-presidente da República. Também estranho.
Quem conhece Jonas Suassuna Filho e o estilo de vida que ele leva ao lado da mulher em elegante apartamento duplex na Barra da Tijuca (Condomínio Península) sabe que a decoração do sítio em Atibaia não combina com o gosto do casal. Suassuna é conhecido por ser um amante de vinhos finos, charutos cubanos, gastronomia fina e de alta qualidade e obras de arte. Ou seja, o tal sítio não reflete a personalidade de Jonas e de Claudia Bueri.
Resumindo, Marisa Letícia e Lulinha faltaram ao depoimento, por orientação dos advogados, porque a Polícia Federal tem um cipoal de provas sobre o verdadeiro dono do sítio. E qualquer declaração seria fatal para Lula e seu clã. Sempre lembrando que na condição de testemunhas ambos deveriam ter comparecido ao depoimento, mesmo correndo o risco de prisão. Até porque, com esse enxadrismo que permeia o sítio não há dúvidas de que o caso é a famosa e popular “chave de cadeia”.
Por fim, se Lula não é dono do sítio Santa Bárbara e a propriedade do imóvel já está devidamente provada, fugir de um depoimento é confissão antecipada de culpa. Sem contar que a defesa de Lula nesse caso está custando pelo menos quatro vezes o valor do sítio. Enfim…