Por mais que os petistas aleguem que todas as doações ao partido ocorreram dentro da legalidade, não há como negar que a Operação Omertà (35ª fase da Operação Lava-Jato), deflagrada nesta segunda-feira (26), coloca Lula e Dilma Rousseff cada vez mais próximos do escândalo de corrupção conhecido popularmente como Petrolão, por causa da prisão do ex-ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda e Casa Civil).
A acusação que embasou a prisão de Palocci é gravíssima e não deixa espaço para desculpas dos companheiros: de ter recebido R$ 128 milhões em propina e de intermediar “conta-corrente” da empreiteira Odebrecht com o PT. Em outras palavras, não há como negar o envolvimento da legenda no maior esquema de corrupção de todos os tempos.
Na mesma operação da Polícia Federal foram presos, além de Palocci, os assessores Branislav Kontic e Juscelino Dourado. Ex-cunhado e ex-assessor especial de Marta Suplicy, Brani, como é conhecido o sérvio Kontic, é acusado de ter participado diretamente com a Odebrecht, em 2010, da compra de um prédio para o Instituto Lula.
A empreiteira baiana adquiriu um prédio de três andares na Vila Clementino, Zona Sul paulistana, usando uma empresa de Salvador, a DAG Construtora, para concretizar o negócio e não aparecer como compradora.
O plano era “doar” o prédio ao Instituto Lula, mas a operação não prosperou. Isso obrigou a entidade que leva o nome do “dramaturgo do Petrolão” a ser instalada no prédio onde antes funcionava o Instituto Cidadania, ligado ao PT. Para a força-tarefa da Lava-Jato, assim como para o juiz federal Sérgio Moro, a compra do tal prédio fez parte de acerto de propina da Odebrecht com o ex-presidente Lula.
Em e-mail de setembro de 2010, apreendido durante a Operação Acarajé (23ª fase da Lava-Jato), deflagrada em 22 de fevereiro de 2016, Marcelo Odebrecht escreveu para o assessor de Palocci: “Preciso mandar uma atualização sobre o novo prédio para o Chefe amanhã. Qual a melhor maneira?”.
Em nota divulgada nesta segunda-feira, o Ministério Público Federal afirma que “há indícios de que a aquisição do terreno inicialmente destinado ao Instituto Lula foi acertada com o ex-ministro, tendo sido o valor debitado das vantagens indevidas pactuadas. Identificaram-se ainda registros de que além do repasse de mais de R$ 12 milhões anotados na planilha “Programa Especial Italiano”, vinculados a IL (Instituto Lula), Palocci participou de reunião com Marcelo Odebrecht e Roberto Teixeira, bem como recebeu, por intermédio de Branislav Kontic, documentos encaminhados via e-mail pelo presidente do grupo empresarial, relacionados à compra do terreno”.
A participação de Brani no esquema coloca não apenas o ex-ministro Palocci em dificuldade, mas também a senadora Marta Suplicy, candidata à prefeitura de São Paulo pelo PMDB, partido cujos dirigentes já não dormem por causa da enxurrada de denúncias de corrupção.
Coincidência ou não, ex-executivos da Odebrecht que aderiram à colaboração premiada afirmaram, em depoimento de delação, Marta Suplicy recebeu R$ 500 mil por meio de caixa 2 na campanha de 2010. Na ocasião, Marta concorreu ao cargo no Senado pelo PT, legenda que deixou em 2015 para se filiar ao PMDB. A explicação da senadora para justificar a troca de partido é que não tinha como “conviver” com os escândalos de corrupção envolvendo petistas.
De acordo com o depoimento dos delatores, a negociação da “doação” foi feita com Márcio Toledo, então namorado da senadora, atualmente seu marido. Corrigido pela inflação do período, o valor doado seria de aproximadamente R$ 757 mil. Resta saber se o ex-cunhado Branislav Kontic deu uma empurrão para viabilizar esse gordo mimo financeiro a Marta.