A situação de Michel Temer, o presidente da República, piorou muito depois da demissão de Geddel Vieira Lima, então ministro da Secretaria de Governo que pressionou o ex-titular da Cultura em defesa de interesses pessoais. Sem ter um escudo à altura da crise que eclodiu e fermento em apenas uma semana, Temer agora terá de buscar de maneira célere uma solução para um problema que se avoluma com o passar do tempo. Do contrário, deve preparar-se para momentos de dificuldade crescente, pois o jogo da política é bruto.
Para piorar o que já era ruim, o ex-ministro Marcelo Calero (Cultura), em entrevista ao dominical Fantástico, da TV Globo, disse que para atender aos interesses de Geddel o presidente da República sugeriu a adoção de uma chicana jurídica, o que levaria o caso à Advocacia-Geral da União (AGU). Essa afirmação é grave, pois mostra que Michel Temer não apenas sabia do interesse do outrora articulador político do governo, mas advogou em sua causa.
“Em menos de 24 horas, todo aquele respaldo que ele me havia garantido, ele me retira. Me determina que eu criasse uma manobra, um artifício, uma chicana, como se diz no mundo jurídico, para que o caso fosse levado à AGU”, disse Calero claro ao Fantástico.
O ex-ministro da Cultura confirmou durante a entrevista que gravou uma conversa telefônica que teve com o presidente da República, mas alegou que esta foi protocolar. A atitude de Calero não justifica e pode ser enquadrada como violação da segurança nacional, mas ao mesmo tempo a preocupação de Michel Temer é inexplicável. Se o presidente da República nada disse de ilegal, não há razão para preocupações.
“Com toda franqueza, gravar clandestinamente, sempre algo desarrazoável, é indigno. Um ministro gravar o presidente da República é gravíssimo. Se gravou, eu espero que essa gravação logo venha à luz, vou exigir que venha à luz. Vocês sabem que sou cuidadoso nas palavras, jamais diria algo inadequado”, afirmou Temer durante entrevista coletiva concedida, no domingo (27), ao lado dos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado, Rodrigo Maia e Renan Calheiros, respectivamente.
Nesse imbróglio, a parte mais fraca é Marcelo Calero, que “peitou” dois velhos conhecidos protagonistas da política nacional: Geddel Vieira Lima e Eliseu Padilha. Michel Temer tem a seu favor o fato de ser o chefe do Executivo federal, status que não o transforma em dono da verdade suprema. Entre a palavra de Calero e a de Temer é difícil definir qual é a mais confiável, mas pela condição de isolamento é melhor apostar na do ex-ministro da Cultura.
Como já noticiou o UCHO.INFO, o caso poderia ter sido resolvido antes de transformar-se em enorme confusão. Bastava Michel Temer presentear Geddel com um exemplar da Constituição de 1988, com um marcador na página que traz o artigo 30, inciso IX. O presidente da República é constitucionalista conhecido e, portanto, não poderia permitir a fermentação do problema. Ademais, a suposta sugestão para que fosse criada uma chicana jurídica depõe contra seu histórico como especialista do Direito.
Michel Temer tenta colocar panos quentes no escândalo com o anunciado veto à eventual anistia ao caixa 2, golpe que está sendo gestado no Congresso Nacional, mas deve implodir em breve. É importante salientar que essa manobra é inconstitucional e, mesmo que aprovada, dificilmente entrará em vigor, pois corre o risco de ser derrubada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Ou seja, o presidente precisa adotar outra medida, que não a do veto ao caixa 2, para conseguir o efeito “água fria na fervura”.
Uma das medidas seria a demissão de Eliseu Padilha, que também entrou em cena para beneficiar Geddel. O presidente descarta, por enquanto, a possibilidade de demitir Padilha, mas a depender do desdobramento do escândalo essa decisão terá de ser tomada. Afinal, em jogo está a governabilidade, que pode ser abalada com a retomada dos movimentos de rua contra o governo peemedebista, que por ora vem mostrando ser mais do mesmo.