“Nunca antes na história deste país” a política alcançou tamanha degradação. Ao longo dos últimos anos, a extensa maioria da classe política dedicou-se ao banditismo de gabinete, sem que a população reagisse à altura para defender a democracia e procurar melhorá-la. A sequência de escândalos alcançou nível tão impressionante, que algo ocorrido meses antes já caiu no esquecimento.
Como sempre afirma o UCHO.INFO, o governo de Michel Temer não é o dos sonhos, mas, apelando ao dito popular, “é o que temos para hoje”. A grande questão que paira no governo é que o presidente da República, dias antes de mudar-se definitivamente para o principal gabinete do Palácio do Planalto, garantiu aos brasileiros que construiria uma ponte para o futuro. Não se sabe se Temer referiu-se a uma parcial solução da crise econômica ou ao início de profunda faxina na seara política.
O presidente pode até ter pensado em atacar em ambas as frentes – algo quase impossível –, mas não se pode esquecer que um cenário é refém do outro e vice-versa. Na verdade, a solução da crise econômica depende muito mais da estabilidade política do que o contrário.
Com o fracasso da promessa não tão longeva de transformar o Brasil na versão tropical de Canaã, a terra prometida, Michel Temer já não se incomoda em cercar-se de aliados políticos que afundam na lama da corrupção. Como se não bastasse ter o alagoano Renan Calheiros como líder do PMDB no Senado, Temer não suportou a pressão do Partido Progressista e pavimentou o caminho para que o paraibano Aguinaldo Ribeiro chegasse ao posto de líder do governo na Câmara dos Deputados.
Enquanto Renan está no cardápio do Supremo Tribunal Federal (STF) por conta de uma dúzia de procedimentos judiciais – processos e investigações –, Aguinaldo é alvo de investigação no âmbito da Operação Lava-Jato. Por questões óbvias, o novo líder do governo na Câmara não é investigado porque foi flagrado na sacristia com o cálice de hóstias na mão. O deputado paraibano é acusado de integrar o maior esquema de corrupção de todos os tempos, o Petrolão.
Aguinaldo Ribeiro é daqueles políticos versáteis, que adere a qualquer governo sem se preocupar com a ideologia prevalecente ou o modus operandi. Como bom nordestino e político que é, Aguinaldo segue a tese “farinha pouca, meu pirão primeiro”. O novo líder foi ministro das Cidades no governo Dilma, depois de ter conspirado dentro do próprio partido, o PP, contra o então titular da pasta e correligionário, Mario Negromonte, também investigado por corrupção na Lava-Jato.
A chegada de Aguinaldo Ribeiro à liderança do governo na Câmara passou pela reeleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ) à presidência da Casa. Então líder do PP na Câmara, Aguinaldo trocou apoio do partido a Maia com a condição de ter respaldo político em sua empreitada política.
Fraco em termos políticos e considerado uma anomalia no comando da Câmara dos Deputados, que cada vez mais está emoldurada por escândalos de corrupção envolvendo seus integrantes, Maia aceitou a proposta de Aguinaldo Ribeiro e passou a pressionar o Palácio do Planalto, que até então estava satisfeito com a atuação de André Moura (PSC-BA) no posto. Com a chegada de Aguinaldo na liderança do governo, Moura assume a liderança da Maioria na Casa, cargo a ser criado e que gerará mais despesas aos contribuintes.
Aguinaldo Ribeiro pertence ao grupo político dos senadores Ciro Nogueira (PP-PI) – presidente nacional da legenda – e Benedito de Lira (PP-AL) e do deputado federal Arthur Lira (PP-AL). Esse grupo já opera nos escaninhos do Ministério da Saúde, atualmente sob a batuta do deputado federal licenciado Ricardo Barros (PP-PR). O “céu de brigadeiro” em que flana Aguinaldo deve ficar carrancudo em pouco tempo, pois a delação do ex-deputado Pedro Corrêa (PP-PE), preso em Curitiba, é devastadora e alcança muitos filiados ao PP. Não custa lembrar que Corrêa estava ao lado de Negromonte quando este foi apeado do Ministério das Cidades.
Barros também apoiou a reeleição de Rodrigo Maia, mas em troca cobrou sua permanência no Ministério da Saúde, algo que o presidente da Câmara poderia negociar não apenas porque é o primeiro na linha sucessória de Temer, mas porque é genro de Wellington Moreira Franco, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência e acusado de corrupção por delatores da Lava-Jato. Acontece que Aguinaldo Ribeiro até recentemente vinha operando nos bastidores para, repetindo o que fez com Mario Negromonte, tomar de assalto o Ministério da Saúde, cujo orçamento é bilionário e impressionante, a ponto de permitir cambalhotas políticas de todos os naipes.