(*) Carlos Brickmann
Se Temer, deliberadamente, decidiu manter o clima carnavalesco na área política para deixar sua equipe econômica trabalhar em paz, é um tático brilhante. Enquanto todos discutem Moreira Franco, Eliseu Padilha, Renan Calheiros, Alexandre de Moraes e Osmar Serraglio, o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, e o ministro Henrique Meirelles ganharam sossego para apresentar resultados. E, pelo jeito, já têm o que mostrar.
Isso não quer dizer que a economia vá bem, já que ainda não recuperou as perdas do período Dilma nem começou a reabsorver os desempregados. Mas vai num bom caminho: a inflação é a mais baixa dos últimos anos, tanto que já se fala em baixar a meta de 4,5% para 3% ao ano; apesar das farras corporativas, o déficit público caiu; os juros (oficiais) tiveram uma boa queda – embora os bancos mantenham suas taxas alucinadamente altas.
O carnaval na área política também permitiu a aprovação das reformas pedidas pela área econômica. Só há um problema: como sair da festa da uva na política mantendo a estabilidade do Governo? Se Temer planejou usar o frege dos políticos enquanto cuidava do essencial, projetou também a rota de saída. Mas, se tudo aconteceu por acaso (e o favoreceu), chegou a hora de pagar a conta. A Lava Jato está atrás de gente ligada a Temer. E o TSE se prepara para julgar em breve a cassação do registro da chapa Dilma-Temer, podendo depor o presidente. Depois do Carnaval, as Cinzas.
O bom a gente mostra…
Temer elogia sempre o desempenho da economia – inflação em baixa, contas públicas sob controle, a alta da arrecadação, apesar de os negócios não terem sido retomados, a queda dos juros Selic que, acha, levará à queda dos juros cobrados pelos bancos. Está feliz também com a recuperação da Petrobras e com o desempenho de Maria Sílvia Bastos no BNDES, voltado menos às grandes empresas escolhidas pelo Governo e mais às menores. Temer acredita que será possível até mexer num tema difícil, que muda a receita dos Estados e atinge cada um dos cidadãos: a reforma tributária. Enquanto congressistas pedem privilégios, a área econômica se beneficia.
…o ruim a gente esconde
O relatório oficial sobre Direitos Humanos no Brasil, entregue à ONU, esqueceu a ruptura da barragem de resíduos da Samarco, em Mariana, Minas Gerais, que matou 18 pessoas, um dos maiores desastre ambientais já ocorridos no país; e a morte de 350 presidiários em 2016. Naturalmente, há explicações para tudo: o desastre da Samarco, que além de matar muita gente envenenou os rios cujos peixes alimentavam a população, não entrou porque a ONU impõe um limite de tamanho para o documento, e o disciplinadíssimo pessoal brasileiro não quis violar a norma; e, como foi elaborado em novembro, o relatório não poderia englobar todos os mortos do ano.
E, além disso, que são 350 pessoas mortas em um ano, se só na primeira quinzena de 2017 foram assassinados 131 presidiários?
É o amigo que diz!
O presidente nacional do PT, Rui Falcão, não perde a oportunidade de, ao ver a bola quicando na área, botá-la dentro do gol – do próprio gol. Acaba de comparar o caso dos líderes petistas José Dirceu, Antônio Palocci e João Vaccari Neto, acusados de crimes do colarinho branco, ao do goleiro Bruno, condenado em primeira instância pelo assassínio da namorada Eliza Samúdio e aguardando julgamento de recurso. E, no site do PT, pediu que os três petistas recebam o mesmo benefício de Bruno, libertado pelo ministro Marco Aurélio por excesso de prazo de prisão sem julgamento.
Detalhe: Rui Falcão é amigo e aliado dos três petistas presos.
Como…
É curiosa a história contada pelo advogado José Yunes, amigo há dezenas de anos do presidente Temer, a respeito de delações de dirigentes da Odebrecht sobre a entrega de pixulecos a peemedebistas. Diz ele que, a pedido de Eliseu Padilha, outro velho amigo de Temer, recebeu em seu escritório um envelope do doleiro Lúcio Funaro – que Padilha nega conhecer, e a quem Yunes se refere como “um tal de Lúcio”. Sem abrir o envelope, e sem saber o que continha, entregou-o a alguém que não sabe quem é e cujo nome desconhece. Tamanho do envelope? “Parecia um documento com um pouco mais de espessura”, diz Yunes.
Os R$ 4 milhões citados na delação premiada, em notas de R$ 50,00, pesam 90 quilos.
…é mesmo?
Eliseu Padilha, que nem conhece o cavalheiro, manda-o entregar um envelope com 90 kg de cédulas no escritório do amigo, que também não o conhece. O cavalheiro, o “tal do Funaro”, chega com um envelope de 90 kg um pouco mais grosso do que um documento. Todos carregam o envelope na mão, nem notam que é pesadinho. Mais tarde vem um desconhecido, e a secretária de Yunes lhe entrega o envelope de 90 kg.
Então, tá.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.