A política brasileira jamais enfrentou avalanche de decrepitude moral tão impressionante como a que vem dominando a cena nas últimas décadas. O escárnio é tamanho, que os políticos não mais se importam com a pecha de ladrão, até porque vivem entre iguais e com esses armam mais e mais golpes contra a população. Independente de correntes políticas ou cangalhas ideológicas, esses alarifes agem de forma idêntica, com mais ou menos ousadia. Que ninguém venha com moralismos de ocasião, porque depois de quarenta anos de jornalismo o editor do UCHO.INFO conhece amiúde o modus faciendi da política verde-loura.
A ação que tramita no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e versa sobre abuso de poder político e econômico no âmbito da chapa Dilma-Temer é o exemplo maior desse despautério. Delatores da Operação Lava-Jato, em depoimento ao ministro Herman Benjamin, relator do caso, revelaram o esquema de corrupção que abasteceu o caixa da campanha liderada por Dilma, mas há quem ouse afirmar que Michel Temer não cometeu nenhuma ilicitude.
Que políticos queiram defender seus comparsas, como faz o senador Aécio Neves (PSDB-MG em relação a Michel Temer, é compreensível, até porque os tucanos abocanharam um bom pedaço do atual governo, mas ultrapassa as fronteiras do bom senso o fato de alguns saírem em defesa do escandaloso caixa 2 da chapa encabeçada por Dilma, tecendo críticas ao relatório do ministro Herman Benjamin, que sequer tornou-se público e foi lido.
Não restam dúvidas acerca das ilicitudes cometidas na campanha de Dilma, tanto é assim que o relator reuniu inúmeros argumentos para requerer a cassação da chapa, o que, ao pé da letra, significa que se o TSE tiver juízo determinará a saída de Temer do poder. Afinal, o cumprimento da lei deve ser isonômico, sem proteções pontuais ou rapapés de qualquer natureza.
O mais novo “furacão da Botocúndia” está materializado em críticas a Herman Benjamin, apenas porque seu relatório é extenso e denso. Ora, se o ministro tivesse produzido um relatório curto, condensado e raso, críticas surgiriam aos bolhões por conta de aludida preguiça intelectual. Detalhista, Benjamin produziu relatório com aproximadamente mil páginas, por isso é alvo de críticas em razão do preciosismo do documento. Em jogo está um mandato presidencial, mas há quem queira que o documento seja tão longo quanto um apontamento do jogo do bicho.
Como sempre afirmamos, o UCHO.INFO não aceita fazer jornalismo de encomenda, assim como rejeita qualquer tentativa de burlar a lei em nome de uma ideologia – ou contra outra – ou de um projeto político. O Brasil clama por profunda faxina na seara política, mas ainda há aqueles que, como proxenetas da informação, alugam a própria opinião.
Michel Temer há de se valer de todos os instrumentos jurídicos para postergar ao máximo a decisão sobre o caso, com o claro objetivo de empurrar o veredicto final para 2018, ano em que termina o seu mandato. Articulações de bastidores ocorreram nas últimas semanas, à sombra do descalabro, com o intuito de fermentar a tese de separação das contabilidades da chapa Dilma-Temer, como se o atual presidente da República não soubesse o que sua parceira de campanha fez para arrecadar dinheiro. E vice-versa.
Recorrer de decisões judiciais é prerrogativa inalienável do cidadão, pois não se pode vilipendiar o direito à ampla defesa, mas acima de tudo é preciso ter espírito de grandeza e saber o quanto o País perderá com manobras jurídicas que postergarão o desfecho da ação. A questão não é julgar às pressas, mas julgar em tempo razoável para impedir a impunidade. E cumprir o que determina a lei, sem privilégios de perfídia.
Não importam o teor e o desfecho da decisão, mesmo que em determinado momento a Corte eleitoral agarre-se à tese da razoabilidade e opte por não punir o presidente Michel Temer para evitar o avanço da crise múltipla que chacoalha o País. Mas que fique pacificado o entendimento de que houve crime eleitoral, ou não.
Ao ministro Herman Benjamin cabe o dever de produzir relatório coerente juridicamente prefeito, à altura de um processo com aproximadamente sete mil páginas, não com a forma e o tamanho que alguns jornalistas entendam ser justo apenas porque são aduladores de Temer.