Apeada da Presidência da República no vácuo de um tenso processo de impeachment, Dilma Vana Rousseff jamais foi reconhecida pela excelência de sua oratória. Aliás, a petista é dona de um besteirol que chega a envergonhar os mais ignaros interlocutores.
Sempre embalada por um comportamento imperativo e intolerante, sem contar a postura truculenta da voz, Dilma precisa medir as próprias palavras caso queira escapar de alguma condenação no âmbito da Operação Lava-Jato. Afinal, suas reações ao caso já são consideradas ‘tiros no pé’.
Os mais recentes tropeços discursivos de Dilma ocorreram na entrevista concedida ao jornal “Folha de S. Paulo”, na qual afirmou que sua campanha rumo à reeleição, em 2014, pagou todas as despesas do candidato a vice, o agora presidente Michel Temer. Com essa declaração, a petista concedeu um quase salvo conduto àquele que costuma chamar de golpista.
Em relação ao empresário Marcelo Bahia Odebrecht, herdeiro do grupo empresarial que leva o nome da família e um dos coringas da Lava-Jato, Dilma deveria reavaliar a imagem que tem do empresário, que, ao contrário, não fez uma “delaçãozinha” apenas porque foi alvo de coação. Quem paga R$ 300 milhões em propina – o valor pode ser muito maior – e despeja metade desse montante em campanhas eleitorais do PT não pode ter feito um acordo de colaboração premiada baseado na mentira e na inconsistência das informações.
Sobre o marqueteiro João Santana, que cuidou das três últimas campanhas presidenciais petistas (2006, 2010 e 2014), a ex-presidente da República parece ter mudado de ideia. Depois de disparar impropérios na direção daquele foi um dos seus principais conselheiros durante o período em que esteve no Palácio do Planalto, Dilma já doura a pílula com o objetivo de evitar algum efeito colateral mais agressivo.
Convocado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para depor como testemunha no processo que trata da chapa Dilma-Temer, o marqueteiro baiano poderá fazer um estrago considerável na vida da petista caso confirme o que já revelou à força-tarefa da Lava-Jato. Entre as muitas declarações que Santana prestou à Lava-Jato, a mais comprometedora no processo em questão é sobre o recebimento de US$ 4,5 milhões, através de caixa 2, na campanha de 2014.
Preocupada com o que suas declarações estapafúrdias podem provocar, Dilma disse à Folha que gosta “muito” de João Santana e que terá “muita dificuldade” se ele “falar coisas que não são reais”. Se quiser continuar fora da cadeia, Santana não pode sequer sonhar em mentir às autoridades. Isso significa que, considerando que sua delação já foi homologada pelo STF, o marqueteiro confirmará no TSE o que disse à força-tarefa da Lava-Jato.
Há no caminho de Dilma outro fator que compromete sua alegada inocência: para homologar a delação de João Santana e Mônica Moura, a Procuradoria-Geral da República (PGR) teve de confrontar suas declarações com as de Marcelo Odebrecht, responsável por abastecer com dinheiro da corrupção o caixa da campanha petista.