(*) Carlos Brickmann
Deve ser terrível acordar cedinho com o Japonês da Federal tocando a campainha, não? Talvez seja menos mau do que pensamos. Como não disse Belchior, nossos governantes ainda são os mesmos. Esta é a terra de Cabral – de Sérgio Cabral. E Cabral não é o único a gostar de ostentação.
Neste fim de semana, casou-se a filha do governador (tucano) de Goiás, Marconi Perillo. O governador ergueu em sua fazenda, para o casamento, uma réplica da bela igreja de Pirenópolis, cidade histórica de Goiás. Decorou-a com R$ 680.000,00 de flores; serviu aos 350 convidados (entre eles os casais Geraldo Alckmin e João Dória Jr., que viajaram de jatinho) champanhe Veuve Clicquot, vinho Don Melchior (nos dois casos, há melhores, mas ambos são ótimos), lagostas, flores comestíveis, tudo preparado por um bufê de Brasília. Goiás tem bons bufês, mas não deve ser esta a opinião do governador de Goiás; como Goiás tem a igreja original de Pirenópolis, mas quem quer casar a filha num lugar ao qual tem acesso o povo que o elegeu? E se de repente alguém fala da Lava Jato? Segundo a delação da Odebrecht, Perillo recebeu R$ 8 milhões, caixa 2 – por fora.
Uma festa espetacular da filha caçula do senador Delcídio do Amaral (PT) foi o primeiro sinal de que o padrão de vida de Sua Excelência tinha melhorado. Ele perdeu o mandato, foi preso, virou delator para conseguir prisão domiciliar. Mesmo assim, quem tem medo do Japonês da Federal?
Quero ver você não sonhar
É gostoso ver uma festa bonita, bem decorada, com gente bem vestida. O vídeo do casamento está em http://wp.me/p6GVg3-3ic. As fotos do pessoal elegante, comendo e bebendo bem, em http://wp.me/p6GVg3-3ih
Dinheiro vem, dinheiro vai
1 – O Governo Federal enfrenta um tremendo déficit orçamentário, mas prevê gastar neste ano R$ 200 milhões com propaganda. O Governo disputa o mercado? Para que propaganda – exceto a obrigatória (editais, etc.) e de temas de interesse público (campanhas de vacinação, problemas com serviços essenciais)? Se o Governo é bom ou não, o eleitor que decida.
2 – A Câmara Municipal de São Paulo está gastando pesado com propaganda. Ao que se saiba, não tem concorrentes. Para que anunciar?
Dinheiro entra…
A Câmara Federal decidiu enviar onze deputados para Barcelona, Atenas e Londres. Exilados? Não: para tomar conhecimento do legado olímpico de cada cidade. Por que não estudar o tal legado antes das Olimpíadas do Rio?
…dinheiro sai
O Brasil está há um ano sem vice-presidente da República, desde que o vice Michel Temer passou a presidente. Mas, só nos primeiros três meses de 2017, a vice-presidência já nos custou R$ 370 mil. Uma das despesas do gabinete: R$ 72 mil com uma empresa de terceirização. No gabinete, diz a Folha de S.Paulo, há uma pessoa, com R$ 2 mil e pouco de salário.
Mudando de conversa
O segundo maior município de São Paulo, Guarulhos, tem dívidas que superam de longe a previsão orçamentário deste ano. A informação é do prefeito Gustavo “Guti” Costa, PSB, eleito como boa novidade na política da cidade Ao assumir, Guti disse que um aterro sanitário municipal, a ser operado pela Multilixo, era um problemão que a gestão anterior lhe havia deixado: há especialistas em Direito Ambiental apontando irregularidades no projeto, a empresa operadora tem experiência em coleta, não em gestão de aterros. Mas o prefeito, depois e assumir, já se mostrou flexível: declarou-se disposto a gastar mais R$ 130 milhões na ampliação do aterro.
…da onça beber água
O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, já havia cantado a bola no início do ano: o STF teria um encontro com as alongadas prisões (sem prévia condenação) dos juízes de primeira instância – em especial de Sérgio Moro. O STF já havia mandado libertar dois presos que tinham o direito de recorrer em liberdade, e manteve na terça a mesma posição, determinando a soltura de José Dirceu. Dirceu foi condenado, mas pode recorrer em liberdade; e estava em prisão preventiva, ordenada pelo juiz Sérgio Moro. Na opinião dos três ministros que votaram pela libertação, a prisão preventiva não pode servir como antecipação de pena.
A hora da fogueira
O noticiário dos próximos dias vai girar em torno de Dirceu: a ordem de soltura, o novo pedido de prisão preventiva, especulações sobre o efeito da libertação de judeu sobre Antônio Palocci, que, segundo se comentou, estaria disposto a fazer delação premiada para sair da cadeia. Mas essa discussão termina na sexta, quando Renato Duque, ex- diretor de serviços da Petrobras e homem-chave no Petrolão, deve ser interrogado por Moro.
Promete contar tudo sobre propina.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.