Bastaram dois dados positivos pontuais sobre a economia – prévia do PIB e geração de empregos – para o governo de Michel Temer “subir no salto”, como prega a sabedoria popular. Nesta terça-feira (16), um dia após o Banco Central anunciar que a atividade econômica registrou crescimento de 1,12% no primeiro trimestre do ano, o Ministério do Trabalho divulgou os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
De acordo com o Caged, em abril o País voltou a gerar empregos com carteira assinada. No quarto mês do ano, as contratações superaram as demissões em 59.856 vagas. Foi o primeiro resultado positivo para o mês de abril desde 2014. Porém, é preciso ressaltar que as vagas geradas em abril representam 0,44% do contingente de desempregados formais, que é de 13,5 milhões de pessoas.
Trata-se do segundo mês de 2017 em que foi registrada a geração de empregos formais. Em fevereiro, as contratações superaram as demissões em 35.612 vagas, primeiro registro de criação de postos de trabalho com carteira assinada no País em quase dois anos. Em março passado, 63.624 vagas laborais foram fechadas.
“Espero que no mês que vem, quando venhamos a conversar novamente, possamos comemorar essa expectativa da retomada do emprego no Brasil. Isso é uma tendência. Quanto maior o número de pessoas consumindo, toda essa cadeia se fortalece. Esperamos que se concretize e se estabeleça esses números positivos”, disse o ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira.
Tais números revelam que no primeiro trimestre deste ano a atividade econômica voltou a crescer, apesar de os efeitos da crise continuarem fazendo estragos País afora. Esse inesperado movimento de alta é reflexo alguns fatos isolados, como por exemplo, o saque dos recursos das contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Ou seja, um fato pontual e de curta duração, mesmo que grande seja o volume de dinheiro a ser sacado em todo o processo. A questão é que boa parte desses recursos (FGTS inativo) não acabará no comércio, mas em quitação de dívidas e pequenos investimentos.
Por outro lado, a decisão do Banco Central de reduzir de forma a continua a taxa básica de juro, a Selic, ainda não provocou o efeito esperado: redução do custo do crédito ao consumidor, que continua nas alturas por conta do risco de inadimplência.
O dilema maior nesse enredo não está na geração de empregos, algo absolutamente importante para retomar o crescimento, mas no poder de compra do salário do trabalhador. Com a crise, a contratação de mão de obra passou a ocorrer com salários mais baixos.
Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), o salário mínimo ideal para o mês de abril era de R$ 3.899,66, ao passo que o salário mínimo continua valendo míseros R$ 937. Ou seja, o piso nacional é quatro vezes menor do que o salário ideal. Considerando que dois terços da população recebem menos de dois salários mínimos por mês, falar em retomada econômica é acreditar em balões de ensaio.
No país em que é preciso desembolsar R$ 6 (0,6% do salário mínimo) para comer o famoso “pastel de feira”, a mais popular e democrática iguaria nacional, o reles trabalhador tem motivos de sobra para preocupar-se com o presente e o futuro. Mesmo assim, os palacianos comemoram como se tivessem operado um milagre na economia.