A intervenção na segurança pública do Rio de Janeiro começou com uma falha imperdoável: o fator surpresa. Especialistas em investigação sabem que o fator surpresa é preponderante para sufocar organizações criminosas, impedindo que seus integrantes fujam das bases.
Diante da possibilidade de criminosos migrarem para os estados que fazem fronteira com o Rio (Espírito Santo, Minas Gerais e São Paulo), autoridades começam a se organizar para tentar impedir essa troca de territórios. Contudo, essa preocupação pode ser tardia.
Os envolvidos direta e indiretamente na intervenção federal anunciaram que rodovias estaduais e federais estão sob monitoramento contínuo, com direito ao uso de helicópteros, drones e veículos policiais e militares.
A essa altura dos acontecimentos, os chefões do crime organizado que domina o Rio de Janeiro já estão longe. Em território fluminense ficaram apenas os chamados “soldados” do tráfico, que têm a missão de, na medida do possível, manter funcionando os negócios ilícitos, enquanto os barões do tráfico e os comandantes das milícias não volta à casa.
Porém, o eventual não retorno dos criminosos aos seus postos pode deflagrar nova onda de violência no Rio de Janeiro, pois bandidos de baixa patente tentarão assumir os negócios deixados para trás pelos antigos chefões. Mas isso é assunto para depois.
A questão do momento é saber até que ponto esse controle nas rodovias impedirá a fuga dos líderes dos grupos criminosos que atuam no Rio de Janeiro. Sabem os leitores que o Rio de Janeiro é banhado pelo mar em toda a sua extensão, o que facilita a fuga de traficantes e outros “fora da lei”.
Não por acaso, o complexo de favelas da Maré, por exemplo, conhecido reduto de criminosos, tem esse nome porque um braço de mar separa a comunidade da Ilha do Fundão e do Aeroporto Internacional Tom Jobim, o velho Galeão. Se a faixa de mar que beira as favelas cariocas não for monitorada diuturnamente, por certo a fuga dos criminosos será mais fácil. E dinheiro para custear essa operação logística não falta.
Há pelo menos quinze anos o UCHO.INFO alerta para o fato de que a entrega de armas e drogas nas favelas do Rio de Janeiro se dá, em sua maioria, pelo mar. E nessa área o patrulhamento deixa a desejar, facilitando a ação dos bandidos.
Não se pode esquecer que, em novembro de 2016, banhistas encontraram enorme quantidade de dinheiro boiando na Praia da Urca. Vários banhistas e pescadores deixaram o local com até R$ 1 mil no bolso. Muitas pessoas creditaram o fato a algum milionário que, passando pela Praia da Urca, decidiu fazer desaforo ao dinheiro, mas na verdade a fortuna submersa era fruto de alguma entrega de drogas interrompida por motivo desconhecido. E ninguém se preocupou em investigar o fato a partir dos números das cédulas.
Vale destacar que durante anos a fio as duas principais facções criminosas que atuam no País se valeram do litoral sul fluminense para a entrega de produtos ilícitos e a fuga de bandidos, que ora estavam no Rio, ora em São Paulo. E as autoridades só não investigaram esse corredor marítimo do crime por pura preguiça.