O grupo xiita Hezbollah e seus aliados políticos obtiveram ganhos significativos nas eleições parlamentares do Líbano, segundo resultados preliminares divulgados nesta segunda-feira (7).
Os números, que correspondem a 14 dos 15 distritos eleitorais do Líbano, revelam que o Movimento Futuro do primeiro-ministro Saad Hariri, político sunita fortemente ligado à Arábia Saudita e apoiado pelo Ocidente, sofreu duras perdas na votação. Em Beirute, antes considerada seu maior bastião, o partido perdeu cinco lugares.
O resultado representa um grande impulso para o Hezbollah, apoiado pelo Irã, além de servir como demonstração da diminuição da confiança dos eleitores no governo, em meio aos problemas econômicos e às tensões causadas pela guerra civil na vizinha Síria, que fez com que um milhão de refugiados buscassem abrigo no Líbano.
Antes mesmo da divulgação do resultado oficial, Saad Hariri – filho do também ex-primeiro-ministro Rafic Hariri, assassinado em 2005 – afirmou em pronunciamento transmitido pelas redes de televisão que seu partido perdeu um terço da representação que possuía na legislatura anterior, caindo de 33 para 21 assentos.
Apesar das perdas, Hariri ainda deverá ter o maior bloco sunita no Parlamento, o que garantirá sua posição como chefe de governo do país. As leis libanesas para garantir o compartilhamento de poder sectário estabelecem que o primeiro-ministro deve ser um sunita.
“Estendo minha mão a todos os libaneses para que participem da melhora da estabilidade política e das vidas de todos os libaneses”, disse Hariri, ressaltando que a comunidade internacional deve avaliar o resultado de forma “bastante positiva”.
“Esperávamos conseguir um resultado melhor e um bloco maior, mas o Movimento Futuro enfrentou um esquema para bani-lo da vida política”, disse Hariri. Ele agradeceu aos eleitores do partido: “Sua confiança é uma medalha em meu peito.”
Cresce a influência do Irã
A assessoria de imprensa do Hezbollah – organização com atuação política e paramilitar fundamentalista islâmica xiita – informou que o grupo e seus aliados conquistaram 71 dos 128 assentos do Parlamento, o que lhe garante poder de veto às leis das quais discordar. O bom desempenho do grupo xiita de oposição a Israel é visto como consequência da influência cada vez maior de Teerã na região.
Considerado uma organização terrorista pelos Estados Unidos, o Hezbollah viu sua força aumentar desde o envolvimento na guerra civil da Síria, em apoio ao regime do ditador Bashar al-Assad.
Os ganhos obtidos pelos grupos que apoiam o Hezbollah ameaçam a influência de políticas ocidentais no Líbano, país que depende de ajuda estrangeira e empréstimos para reavivar sua economia.
Os cidadãos escolheram 128 deputados entre 700 candidatos sob uma nova lei eleitoral, aprovada em 2017, que estabelece um sistema proporcional, mas mantém a divisão do eleitorado em função da sua religião. O comparecimento às urnas dos eleitores foi baixo, de apenas 49,2%. Em Beirute, a participação foi de entre 32% e 42%.
As últimas eleições antes do pleito deste domingo ocorreram em 2009. O mandato dos deputados deveria ter terminado em 2013, mas foi prorrogado em 2013, 2014 e 2017, sob justificativas ligadas a questões de segurança relacionadas com a guerra na Síria.
O sistema político libanês distribui o poder entre as diferentes comunidades religiosas do país, e os principais partidos são liderados por dinastias políticas. (Com agências internacionais)