Quatorze anos após anunciar o fim da corrupção no Brasil, José Dirceu entrega-se à PF para cumprir pena

Em 25 de abril de 2004, com o primeiro governo do agora presidiário Lula chegando perto da metade, o Partido dos Trabalhadores exibiu, durante evento de homologação da candidatura do “companheiro” Jorge Bittar à prefeitura do Rio de Janeiro, uma gravação em que José Dirceu falava sobre o fim da corrupção no País.

Misturando messianismo bandoleiro com desfaçatez política, Dirceu, agora também presidiário, disparou à época: “Eu sei que todos que estão nesta convenção sabem que nós estamos mudando o Brasil. Primeiro porque acabou a corrupção no governo do Brasil. Depois de dezesseis meses de governo, não temos a notícia de um só ato de corrupção no governo. Mudamos o Brasil, porque garantimos as condições para a retomada do desenvolvimento”.

Frio e calculista, como revela sua trajetória política, José Dirceu é um farsante profissional que não se deixa abalar pelos desdobramentos da vida. Age com vilania eterna, como se a opinião pública tivesse de aceitar suas recorrentes patranhas.

O tempo passou e revelou a verdadeira face – modificada por cirurgiões plásticos cubanos – daquele que poderia ter substituído Lula no comando do País. Afinal, o plano macabro do PT era eleger Dirceu presidente da República em 2010, mas por acidente de percurso e falta de opção o partido foi obrigado a abraçar a candidatura da incompetente Dilma Rousseff.

Até mesmo que tem parco conhecimento sobre a política nacional sabe que o PT não apenas arruinou o País na esteira do populismo barato e da roubalheira institucionalizada, mas conseguiu mandar pelos ares uma economia que, mesmo cambaleante, seguia sua rota a duras penas.

Naquele momento, em 2004, quando José Dirceu afirmou que o Brasil estava livre da corrupção e na trilha do desenvolvimento, os brasileiros sequer perceberam a armadilha montada na estrada que levaria ao futuro.

Tomando por base o fato de que a população nacional tem memória curta, a classe política atropela os próprios discursos, sempre apostando nas próximas aldrabices. Quando teve o mandato de deputado federal cassado pelo plenário da Câmara, no vácuo de seu envolvimento no escândalo do Mensalão do PT, Dirceu insistiu em afirmar que era inocente e que não existiam provas que justificassem aquele julgamento.


Dono de memória invejável, mas de conveniência, José Dirceu preferiu esquecer o discurso que proferiu durante processo de cassação do mandato do então deputado federal Ricardo Fiúza (PFL-PE) – já falecido – acusado de envolvimento no escândalo de corrupção que ficou conhecido como “Anões do Orçamento”. No plenário da Câmara, Dirceu, em tom professoral, disse que para cassar um mandato não eram necessárias provas, mas apenas evidências. Fiúza foi absolvido pelos seus pares.

Nesta sexta-feira (18) – pouco mais de quatorze anos após a mentirosa mensagem exibida na convenção do PT no Rio de Janeiro, José Dirceu entregou-se à Polícia Federal em Brasília, antes do prazo final estabelecido pela Justiça, para cumprir pena de prisão (30 anos, 9 meses e 10 dias) por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

Sempre calmo e determinado ao lidar publicamente com as pessoas, nos bastidores José Dirceu é a materialização de lúcifer quando o assunto é ideologia e seus quetais. Desde que deixou o Palácio do Planalto, debaixo de acusações de corrupção, José Dirceu jamais trabalhou para valer.

Horas depois de perder o mandato parlamentar, Dirceu, em entrevista coletiva concedida no setor de comissões permanentes da Câmara dos Deputados, disse que na segunda-feira subsequente retomaria o ofício de advogado, pois tinha de honrar as pensões alimentícias dos filhos. Isso jamais aconteceu, exceto no campo da ilegalidade, dos conluios, dos malfeitos. Longe da labuta legal, José Dirceu conseguiu recursos suficientes para, inclusive, custear uma defesa milionária, que não conseguiu tirá-lo da estrada do cárcere. E o petista precisa explicar como pagou o caro e badalado advogado que contratou.

Nesta sexta-feira, o Brasil encerra mais um capítulo da sua história com a prisão de José Dirceu, que, assim como Lula, terá de contemplar nos próximos anos o despontar do astro-rei de forma geometricamente distinta, o famoso sol quadrado. A Lei de Execução Penal prevê a progressão de regime por bom comportamento e outros parâmetros, o que pode reduzir sobremaneira o período de encarceramento de Dirceu.

Mesmo que o ex-comissário palaciano passe cinco ou seis anos atrás das grades, não será uma derrota para a nação, porque os primeiros passos para a reedificação moral e ética do País foram dados. A partir de agora é seguir o caminho, debaixo do regime democrático e sem devaneios extremistas. Até porque, de falsos Messias o brasileiro não quer ouvir falar.

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