A separação de centenas de crianças de seus pais na fronteira dos Estados Unidos com o México, resultado de uma política migratória de tolerância zero do governo do presidente Donald Trump, vem gerando indignação entre os norte-americanos. Tanto democratas quanto republicanos criticaram a medida, que gerou protestos pelo país no último final de semana e foi condenada até mesmo pela primeira-dama, Melania Trump.
Cerca de 2 mil crianças foram separadas de suas famílias desde abril, quando o procurador-geral dos EUA, Jeff Sessions, anunciar a política de tolerância zero do governo federal. A medida prevê que todos os detidos ao tentarem cruzar ilegalmente a fronteira, incluindo requerentes de refúgio, sejam indiciados.
A política resulta na separação das crianças, que não são alvo de acusação criminal, dos adultos de suas famílias, e não há procedimentos claros para a reunificação entre os familiares. Os menores de idade são, geralmente, mantidos em instalações do governo ou colocadas sob adoção temporária.
O governo afirma que a estratégia é necessária para trazer segurança à fronteira, além de ser uma forma de intimidar os que planejam entrar ilegalmente no país. Líderes religiosos, ativistas, e profissionais da saúde alertam, no entanto, para os efeitos dos traumas de longa duração que a separação pode causar.
As imagens de crianças vivendo em edificações improvisadas e barracas de abrigo para migrantes geraram um grande mal-estar no país e deram maior ênfase ao debate político sobre a imigração.
Melania Trump, que não costuma fazer declarações públicas, se pronunciou sobre o caso através de sua assessoria. Sua diretora de comunicações, Stephanie Grisham, disse que a primeira-dama “detesta ver crianças separadas de suas famílias e espera que ambos os lados [republicanos e democratas] possam finalmente se juntar para alcançar uma reforma migratória bem-sucedida”.
“Temos que ser um país que segue as leis, mas também um país governado com o coração”, disse Melania, citada pela porta-voz.
Trump tentou jogar a culpa para o Partido Democrata, afirmando que o apoio da oposição a uma legislação mais ampla sobre a imigração poderia pôr fim às separações das famílias de migrantes na fronteira.
No Twitter, o presidente afirmou que “os democratas podem consertar as divisões familiares forçadas na fronteira se trabalharem com os republicanos numa nova legislação”.
Os democratas, por sua vez, acusam o presidente de transformar as crianças em “reféns políticos” para forçar a aprovação de medidas anti-imigração mais rígidas, incluindo o financiamento da construção do controverso muro na fronteira com o México, uma das maiores promessas de campanha de Trump.
“Pare de mentir para os americanos. Essa política é sua”, disparou o congressista democrata Hakeem Jeffries.
No domingo – data em que foi comemorado o Dia dos Pais nos Estados Unidos –, sete congressistas democratas se juntaram a centenas de manifestantes em frente a um centro de detenção de migrantes em Nova Jersey para protestar contra as separações de adultos e crianças da mesma família. “Isso não deve nos representar como nação”, afirmou no protesto o congressista Jerrold Nadler.
Outro democrata, o texano Beto O’Rourke, liderou uma marcha até um dos locais onde foram erguidos os barracões para abrigar as crianças. Ele qualificou a situação no local como desumana e “antiamericana”.
As críticas, no entanto, não partiram apenas dos democratas. “É traumático para as crianças, que são vítimas inocentes, e contraria os valores de nosso país”, observou a senadora republicana Susan Collins.
Na terça-feira (19), o sempre estabanado presidente Donald Trump, que continua creditando ser o xerife do universo, deve reunir-se com os congressistas do Partido Republicano para discutir a repercussão negativa da política. (Com agências internacionais)