Negociador-chefe do Brexit para o Reino Unido, David Davis cumpriu as ameaças que já havia feito várias vezes e renunciou ao cargo, em duro golpe para o governo da primeira-ministra Theresa May há pouco mais de oito meses da planejada saída do país da União Europeia (UE).
Davis era um dos principais representantes da ala pró-Brexit dentro do governo britânico, dividido entre aqueles que querem manter estreitas relações com a União Europeia e aqueles que defendem uma ruptura forte. Em seguida, o subsecretário de Estado para o Brexit, Steve Baker, também renunciou.
Em carta enviada à chefe do governo britânico, Davis afirmou que “a atual tendência de políticas e táticas” faz com que pareça “cada vez menos provável” que o Reino Unido se retire da união aduaneira e do mercado comum europeus.
A renúncia ocorreu dois dias após o governo alcançar, internamente, um acordo sobre o novo plano para a futura relação com a União Europeia após a conclusão da saída do Reino Unido. O plano prevê um Brexit soft, ou seja, que o Reino Unido se mantenha estreitamente vinculado ao mercado comum europeu.
Davis afirmou na carta que o plano “vai, no melhor dos casos, nos deixar numa posição fraca para negociar, e possivelmente esta será inescapável”, avaliou.
A renúncia de Davis enfraquece ainda mais o governo já frágil de May, que perdeu vários ministros no último ano devido a alegações de assédio sexual e outros escândalos.
O escritório de May afirmou que um substituto para David seria anunciado nesta segunda-feira (9). A saída poderá fortalecer legisladores conservadores a favor de um Brexit forte a desafiar o governo da primeira-ministra. Esse grupo avalia que May está disposta a fazer concessões demais à UE.
Detalhes do plano
O novo plano interno, que será explicado aos legisladores nesta segunda-feira, prevê que, após a saída da UE, o Reino Unido siga estreitamente vinculado ao mercado europeu para o intercâmbio de bens. O objetivo é não prejudicar o comércio e a cadeia administrativa entre o Reino Unido e o continente.
Para garantir o livre intercâmbio, seriam estabelecidas uma série de “regras conjuntas” para que Londres mantenha regulações e padrões da UE. Nas próximas semanas será divulgado um documento com os detalhes do acordo fechado na reunião ministerial da sexta-feira passada.
Os outros três elementos de livre circulação no mercado único (capital, mão de obra e serviços) sofreriam limitações. Desta forma, os britânicos querem frear o ingresso ilimitado de cidadãos europeus e seguir suas próprias regras no setor de serviços.
Davis disse a May que temia que o enfoque de negociação do governo “simplesmente conduza a novas demandas de concessões”. Em sua resposta a Davis, May disse: “Não concordo com a definição que [o senhor] faz da política com a qual concordamos na sexta-feira na reunião ministerial”.
May acrescentou ainda que lamenta que Davis tenha escolhido deixar o governo “quando alcançamos tanto progresso rumo à possibilidade de realizar um Brexit suave e bem-sucedido e quando nos faltam apenas oito meses para a data legal marcada para que o Reino Unido deixe a União Europeia”.
Duras negociações
As negociações que permitiram à primeira-ministra britânica chegar a esse novo acordo foram duras. O diário The Times falou na “pior rebelião durante seu governo”.
Segundo relatos da imprensa britânica, o ministro do Exterior, Boris Johnson, Davis e outros políticos opinaram que, com essa iniciativa, May se arriscava a destruir seu governo.
Mas, além das dissidências internas, ainda resta saber se Bruxelas aceitará um acordo do tipo, já que até agora a UE considerava que não se podem negociar individualmente as quatro liberdades do mercado único. (Com agências internacionais)