Candidato do PDT à Presidência da República, Ciro Gomes foi o convidado da Central das Eleições, da GloboNews, programa levado ao ar na noite de quarta-feira (1). O pedetista adoçou o discurso, tentando passar à opinião pública a impressão de que é uma pessoa centrada e controlada, mas não convenceu que conhece o seu quase constante destempero.
Algumas das propostas abordadas por Ciro Gomes beiraram o óbvio, mas é preciso destacar que nenhuma delas é passível de ser implantada em pouco tempo, como garantiu o pedetista. O estrago produzido pelo PT na economia nacional é tamanho, que reverter o desastre exigirá dos brasileiros, assim como dos governantes, esforço continuado durante algumas décadas.
Naquele momento sob o impacto da decisão do PSB de se juntar ao PT para isolá-lo eleitoralmente, Ciro Gomes preferiu não responsabilizar de maneira direta Lula e Dilma pela devastação promovida na economia, mas não se pode fechar os olhos para a realidade. O que o pedetista fez, sem citar nomes, mas pendendo o próprio discurso, foi insinuar que a culpa era de Michel Temer, que de merecedor de seus elogios passou a inimigo figadal.
O desatino do pedetista surgiu em vários momentos, de maneira quase subliminar, na sua insistência em afirmar que é professor de Direito Constitucional. Tal afirmação serviu de preâmbulo às respostas dirigidas aos entrevistadores da GloboNews.
Um professor de Direito Constitucional que se preze sabe que é preciso respeitar os Poderes constituídos. Ao contrário, Ciro, em entrevista à TV Difusora, do Maranhão, afirmou: “O Lula só tem chance de sair da cadeia se a gente assumir o poder e organizar a carga. Botar juiz para voltar para a caixinha dele, botar o Ministério Público para voltar para a caixinha dele e restaurar o poder político”.
De igual modo, um professor de Direito Constitucional, gabaritado como o próprio Ciro gazeteou, não poderia ter sugerido o sequestro de Lula como forma de desafiar a Justiça em caso de condenação do petista, que mais tarde se confirmou. “Pensei: se a gente formar um grupo de juristas, a gente pode pegar o Lula e entregar numa embaixada. À luz de uma prisão arbitrária, um ato de solidariedade particular pode ir até esse limite. Proteger uma pessoa de uma ilegalidade é um direito”, disse o pedetista.
Um professor de Direito Constitucional não deve usar o termo “filho da puta” para referir-se a uma promotora de Justiça que decide investigá-lo por ter chamado um vereador paulistano de “capitãozinho do mato”.
“Esse Fernando Holiday é o capitãozinho do mato. A pior coisa que tem é um negro que é usado pelo preconceito para estigmatizar. Esse era o capitão do mato no passado”, afirmou em entrevista à rádio Jovem Pan.
Dias depois, durante sabatina na Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Ciro Gomes ofendeu e ameaçou publicamente a representante do Ministério Público de São Paulo: “Um promotor aqui de São Paulo resolve me processar por injúria racial. E pronto, um filho da puta desse faz isso. Ele que cuide de gastar o restinho das atribuições dele, porque se eu for presidente essa mamata vai acabar”.
Resumindo, apesar dos elogios dos jornalistas que o entrevistaram na Central das Eleições, o Ciro Gomes que esteve nos estúdios da GloboNews é a mesma farsa de sempre e que todos conhecem: um truculento confesso que naquela noite estava adestrado.