Artigo do condenado Lula no The New York Times é misto de valsa do adeus com abraço de afogados

Nesta terça-feira (14), a um dia do encerramento do prazo final para o registro de candidaturas, Lula recorreu ao jornal The New York Times para, em artigo de sua autoria (sic), novamente discorrer as mesmas alegações de sempre: perseguição política, caçada judicial, condenação improcedente, processo ilegítimo, excesso de poderes do juiz Sérgio Moro, ameaça à democracia e outros devaneios.

A desfaçatez de Lula, como de costume, avançou o sinal desde o título do artigo, que em português é “Quero democracia, não impunidade”. O ex-presidente pode afirmar o que bem entender, até porque é livre a manifestação do pensamento, mas não lhe cabe falar em democracia e muito menos condenar a impunidade. Afinal, Lula, ao apostar na impunidade de forma recorrente, atentou contra a democracia. Agora, atrás das grades, ressurge com esse discurso populista.

Lula não tem como negar seu envolvimento no maior esquema de corrupção da história da Humanidade, mas para preservar sua trajetória política, mesmo que com alguns rombos, precisa levar adiante o discurso emoldurado pela vitimização. Essa estratégia é suicida, como já afirmou o UCHO.INFO em diversas ocasiões, pois junto levará ao buraco o PT, partido que nas eleições municipais de 2016 foi alvejado por surpreendente processo de encolhimento.

Além da vaidade pessoal, Lula insiste em sua impossível candidatura apenas porque não quer perder o protagonismo no âmbito do PT e principalmente na esquerda latino-americana. Porém, esse movimento de desidratação política de Lula como líder esquerdista começa a ganhar força dentro do próprio PT. O que explica a briga pelo poder no partido. Enquanto alas da legenda defendem Haddad, grupos ligados a Lula tentam atrapalhar o ex-prefeito paulistano.


Há alguns meses, a manutenção da candidatura de Lula era explicada pelo partido com a questionável necessidade de se preservar ao máximo a capacidade de transferência de voto do ex-metalúrgico, como forma de garantir a eleição do maior número possível de deputados federais da legenda. Isso daria ao PT um fôlego financeiro a partir da próxima legislatura, uma vez que o cálculo do fundo partidário é feito com base no número de deputados.

Pois bem, se o PT ainda sonha com a possibilidade de minimizar o estrago, se que isso é possível, o melhor a fazer é desistir da candidatura de Lula o quanto antes e deixar Fernando Haddad assumir o posto e a árdua missão de salvar a legenda. Não sem antes tirar a senadora Gleisi Hoffmann de cena, pois a presidente do partido está inconformada com a difícil situação do padrinho político.

Corrupto, como provam as investigações da Operação Lava-Jato, Lula é um animal político que sabe modular o discurso para enganar o seu eleitorado com condenável destreza. Mas o Brasil, nem mesmo no pior dos pesadelos, precisa do seu retorno ao poder, caso isso fosse possível. Fernando Haddad, que em meio aos companheiros é o chamado “peixe fora d’água”, pouco poderá fazer pelo partido na eleição que se avizinha.

Gostem ou não de Haddad, o ex-prefeito de São Paulo poderá ajudar o PT reduzir o prejuízo nas urnas, mas para isso é preciso convencer Lula a não dificultar o que já é demasiadamente difícil. O PT está a correr contra o relógio e a Justiça Eleitoral promete ser implacável com os considerados inelegíveis. A se confirmar a promessa, Lula e o PT podem levar uma invertida muito maior do que imaginam. Talvez seja isso que o processo eleitoral está a aguardar.