Alvo de denúncia de corrupção, PPP da Iluminação de SP continua à espera da boa vontade da Justiça

Como diz o sempre bem-humorado jornalista José Simão, o Brasil é o “país da piada pronta”. E o anedotário tupiniquim avança sem cerimônia no universo da política quando alguma autoridade, em momento de dificuldade, precisa justificar um escândalo de corrupção.

Na maior cidade brasileira, São Paulo, a Parceria Público-Privada da Iluminação Pública foi suspensa por suspeita de corrupção ativa e passiva, como demonstram provas entregues ao Ministério Público paulista. A palavra “suspeita” é mero rigor técnico da investigação, mas as provas não deixam dúvidas a respeito. Gravações e documentos apontam o pagamento de propina para favorecer um dos consórcios que participavam do certame.

Diante do conjunto probatório, o Tribunal de Justiça de São Paulo determinou a suspensão do contrato da PPP da Iluminação, considerado o maior do planeta, vencido pelo consórcio FM Rodrigues/Consladel, após processo licitatório suspeito e marcado por manobras espúrias por parte da Prefeitura de São Paulo. Apenas a manutenção da iluminação da cidade, que já era feita pela FM Rodrigues, foi mantida.

Configura ultraje ao bom senso uma empresa suspeita de corrupção ativa continuar prestando serviços à Prefeitura de São Paulo, que já teve tempo suficiente para contratar de forma emergencial uma companhia para cuidar da manutenção da iluminação da cidade, enquanto o imbróglio da PPP não se resolve.

O prefeito Bruno Covas, do PSDB, parece não se importar com o escândalo. Tanto é assim, que ao substituir João Agripino Doria no posto, manteve na sua órbita alguns dos envolvidos na licitação da PPP.


Marcos Penido, que na gestão Doria respondia pela Secretaria Municipal de Serviços e Obras (SMSO) e tinha sob seu comando o Ilume, foi transferido para a Secretaria das Prefeituras Regionais, mas levou na bagagem o Departamento de Iluminação. Uma decisão no mínimo estranha, pois a nova pasta não tem qualquer vínculo com a PPP, a não ser algo que se desconheça.

O escândalo no escopo da PPP da Iluminação é tamanho, que até mesmo o popular padre Marcelo foi arrastado para o olho do furacão. A cópia de um e-mail que circulou no Ilume comprova que a Prefeitura promoveu a modernização e a adequação da iluminação do palco do templo comandado pelo padre Marcelo, na Zona Sul da cidade de São Paulo.

O Ministério Público de SP ouviu os envolvidos e intimou a ex-primeira-dama Beatriz Maria Bettanin Doria, conhecida Como Bia Doria, para depor na condição de testemunha. Bia Doria disse que não solicitou qualquer intervenção do Ilume, mas um funcionário do templo disse, em depoimento, que as melhorias só foram possíveis após ordem da ex-primeira-dama.

João Agripino da Costa Doria Junior, que concorre ao governo de São Paulo e ao eleitorado apresenta-se com competente gestor, sempre soube – ou tinha o dever de saber – das irregularidades que marcaram o processo licitatório da PPP da Iluminação, levadas a cabo para favorecer o consórcio vencedor.

É preciso saber até quando o escândalo será levado adiante, com se em “banho maria” estivesse, já que ultrapassa as barreiras do inaceitável o fato de que com tantas provas nenhuma autoridade tenha tomado uma decisão em favor dos munícipes.