Os jornalistas que se preparem, pois o governo do presidente eleito Jair Bolsonaro será um festival de desmentidos, assim como foi o da petista Dilma Rousseff, que por certo continua acreditando que apagão e blecaute são situações distintas, assim como crê ser possível ensacar vento.
Como disse certa feita o poeta português Manuel Maria de Barbosa l’Hedois du Bocage, “a emenda saiu pior do que o soneto”. E Bolsonaro parece ser um fã incondicional dessa frase de Bocage, já que a cada vez que tenta explicar uma declaração em desacordo com o texto constitucional, a situação piora.
Na noite desta segunda-feira (29), em entrevista ao Jornal Nacional, Jair Bolsonaro disse que referiu-se à cúpula do PT quando disse que “marginais vermelhos” seriam banidos do Brasil em seu governo.
“Foi um discurso inflamado, com a Avenida Paulista cheia. Logicamente, estava me referindo à cúpula do PT. O próprio Boulos havia dito que invadiria minha casa”, afirmou, em referência à declaração do presidenciável derrotado do PSol.
Para quem está prestes a assumir a Presidência da República, Bolsonaro mostra-se pequeno de raciocínio ao recorrer ao pensamento binário para dar respostas vinculadas aos erros dos adversários. Ou assume o erro que cometeu, ou é reconhece que falta-lhe preparo para comandar uma nação com tantos problemas e desafios.
Bolsonaro cometeu um erro crasso ao afirmar, em discurso aos seguidores que estavam reunidos na Avenida Paulista, em São Paulo, no último dia 21, “esses marginais vermelhos serão banidos de nossa pátria”.
A Constituição Federal, a mesma que Bolsonaro prometeu cumprir, sabe-se lá por qual razão, estabelece em seu artigo 5º, inciso VIII, que “ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política”. Sendo assim, nenhum cidadão será banido do Brasil por ser de esquerda ou de direita, mesmo que Jair Bolsonaro assim queira. Ele foi eleito para chefiar o Executivo, não para ser dono do País.
No caso de esses “marginais vermelhos” terem cometido crimes – muitos cometeram – cabe à Justiça julgá-los e condená-los, não ao presidente eleito. Não importa se os mencionados por Bolsonaro são todos os esquerdistas ou apenas os integrantes da cúpula do Partido dos Trabalhadores, a lei deve ser respeitada e aplicada em sua inteireza, apenas e tãosomente pelo Judiciário.
Mesmo em caso de condenação, a legislação vigente não prevê banimento do cidadão. Resumindo, Bolsonaro provou mais uma vez que o brilhante poeta português Bocage continua em voga.