A onda do “bate e arrebenta” que tomou conta do Brasil parece ter infestado o Palácio dos Bandeirantes, onde o tucano de poucas divisas João Agripino da Costa Doria Junior tenta posar de xerife do faroeste tupiniquim. Há dias, Doria, que pegou carona no discurso truculento e bizarro de Bolsonaro para se eleger ao governo paulista, autorizou o uso de espingarda calibre 12 por parte da Polícia Militar durante o dia, sob a justificativa de que é preciso enfrentar os criminosos à altura.
O anúncio foi feito durante o lançamento da operação “Rodovia mais segura”, ocasião em que o governador declarou: “Diante de qualquer ameaça à população, risco de morte, risco de ameaça com arma, a orientação da Polícia Militar é imobilizar o bandido. Se ele reagir, ele vai para o cemitério”. É importante ressaltar que reagir exige técnica e parcimônia, pois do contrário quem corre risco é a população. Como João Doria é dado aos exageros por conta do seu conhecido histrionismo, tais declarações devem ser minimizadas.
A assessoria do Palácio dos Bandeirantes divulgou nota para explicar a mudança do armamento das equipes de ronda da PM. “Nos atendimentos diurnos, as equipes saíam com pistolas .40, impossibilitando uma resposta à altura em atendimentos de maior gravidade”.
Não há dúvida que os criminosos devem ser enfrentados pelos policiais com igualdade de condições, mas é preciso saber separar o cidadão comum daqueles que aterrorizam a população e ignoram a lei de forma contumaz.
Usar uma espingarda calibre 12 para responder ao ataque de criminosos é aceitável, ao mesmo tempo que necessário, mas injustificável para abordar uma motorista que, durante a madrugada, por medo da violência que campeia na cidade de São Paulo, resolveu não respeitar o sinal vermelho no caminho de volta para casa.
Dois policiais militares obrigaram a motorista a parar o veículo, na Zona Sul paulistana, exigindo que descesse com as mãos para cima, enquanto tinha apontada para si uma espingarda calibre 12. Um absurdo sem precedentes, que não encontra justificativa em nenhum manual de abordagem policial.
Não obstante, os dois policiais militares, que certamente estão embalados pelo discurso truculento e abusivo do presidente da República e pela fanfarronice do governador, abusaram do deboche ao tratar a motorista, que por ter sido assaltada outras vezes em cruzamentos da capital paulista, preferiu não correr o risco de ser vítima novamente.
Entre um criminoso de alta periculosidade e um motorista infrator ignora o semáforo na madrugada com medo da violência há uma abissal diferença. O problema é que o Brasil passou a viver sob a égide militaresca, em que o policial acredita que está acima da lei e da democracia.
Por outro lado, a mesma PM não consegue entrar em algumas regiões da cidade de São Paulo porque o crime organizado não permite. Por razões óbvias a Polícia Militar negará essa informação, mas o UCHO.INFO tem relatos de comerciantes de diversas regiões de cidade confirmando esse cenário. Por conta da ausência da PM, que não tem autorização para patrulhar determinadas regiões, os tais comerciantes foram obrigados a fazer acordos com os criminosos para evitar assaltos.
Em um dos casos, que na nossa opinião é o mais grave, um policial militar que ousou patrulhar uma área de motocicleta acabou morto por criminosos. A ousadia dos bandidos foi tamanha, que o policial foi enterrado em local ermo do bairro, junto com a motocicleta. Mesmo assim, na Zona Sul da cidade, a PM precisa mostrar serviço, por isso intimida motoristas que, por medo de assalto, infringem a legislação de trânsito.
João Doria precisa desses discursos mirabolantes para provar aquilo que não é e nunca foi, mas seus eleitores ainda descobrirão o erro que cometeram nas urnas. Por outro lado, o Comando da Polícia Militar deveria instruir melhor seus homens, antes que a corporação seja envolvida em um escândalo de grande repercussão, com direito a divulgação na imprensa local e internacional. Uma coisa é assassinar bandido, outra é cometer violência contra inocentes que tentam escapar da incompetência do Estado.
Se a PM comportou-se dessa maneira com uma pessoa de classe média alta, com conhecimento e discernimento equivalentes, é de se imaginar o que acontece nas periferias, onde pessoas humildes com dificuldade para se expressar e que se deixam intimidar por policiais abusados que acreditam que uma farda e uma arma são passe livre para o abuso de autoridade.
Covardia tem limite e o UCHO.INFO está de olho, talvez na cola, da Polícia Militar. Porque no encalço de João Doria estamos desde o escândalo da PPP da Iluminação Pública da cidade de SP, caso de corrupção que o então prefeito paulistano e agora governador não teve coragem suficiente para explicar. Com a palavra, o Comando da Polícia Militar do Estado de São Paulo!