(*) Carlos Brickmann
Não, não foi um incêndio que matou dez crianças e feriu três no Centro de Treinamento do Flamengo, no Rio. Quem os matou pode ser descoberto sem o rigoroso inquérito. Basta verificar quem mandou abrigar as crianças em contêineres, num terreno que, sem condições, não poderia ser usado.
Não, não foi a ruptura da barragem de Brumadinho que deixou mais de 300 mortos e desaparecidos e envenenou os rios que levavam água para a população. Dois dias antes da ruptura, revelam e-mails trocados entre duas empresas que cuidavam da segurança da barragem e funcionários da Vale, a mineradora tinha sido avisada dos problemas nos sensores que deveriam monitorar a estrutura de Brumadinho. Que fez a Vale, nesses dois dias? Na melhor das hipóteses, orou para que nada ocorresse. Na pior, nem deu bola: seu negócio é minério, não vidas humanas. Não verificaram nem as sirenes.
Não, não será um acidente, nem uma fatalidade, se Itabira, muito maior que Brumadinho, for vítima de uma barragem com 200 vezes a capacidade da que se rompeu. O repórter Rodrigo Hidalgo, da Band, filmou as brechas na segurança e a matéria foi ao ar, em rede nacional. E a Vale? Silêncio.
Não, não são casos isolados, o do Flamengo e o da Vale, o de Mariana e o de Brumadinho, ou, que Deus não o permita, o que ameaça Itabira. São todos o mesmo problema: o importante é cuidar exclusivamente do negócio e não se mexer para torná-lo seguro. A vida humana é apenas um detalhe.
Assassínio a prazo
Não, não foi um temporal inesperado o culpado pelas mortes e o caos no Rio. Os radares detectaram a movimentação da tempestade de Paraty para o Rio com quatro horas de antecedência. Se ninguém se mexeu, não é culpa dos radares. O fato é que há muitos anos as verbas para proteção da cidade contra temporais foram reduzidas a uns 30% do que se gastava – e que já era pouco.
Percorra o Rio (não só o Rio, boa parte de nossas cidades, mas lá a área é sujeita a chuvas muito fortes) e verá que os esgotos estão fora de uso há tempos, até com capim nascendo nas bocas de lobo. A ocupação desordenada de morros eliminou as árvores que reduziam a velocidade das águas. As favelas estão em áreas de risco.
Desculpe, caro leitor: já não há mais favelas, há comunidades. O nome é outro, apenas o risco é o mesmo.
A saúde do presidente
Um deputado federal do PSOL disse que o presidente Bolsonaro estava às portas da morte. Some-se a isso a pneumonia, uma doença perigosa; as fotos em que o presidente, com sonda nasal e provavelmente irritadíssimo por não poder sair logo do hospital, mostrava péssima aparência; e houve uma onda de boatos sobre a saúde de Bolsonaro. Seus médicos foram direto ao ponto: a pneumonia cedeu, o presidente voltou a comer (era alimentado, antes, por sonda), sua recuperação é boa. Fica mais alguns dias no hospital, mas vai bem. E aos poucos vai sendo autorizado a receber seus ministros.
Sarar é preciso
O ideal, acredita este colunista, seria que Bolsonaro aceitasse relaxar: no hospital, cuidaria exclusivamente da saúde, sem tentar ao mesmo tempo exercer a Presidência. Tem um vice, que ele escolheu, e se assumir por uns dias permitirá que Bolsonaro fique um pouco mais tranquilo. E é bom para o Governo: hoje, falta a voz do presidente bem na hora das reformas.
Impunidade, não
Lembra da juíza que colocou uma adolescente numa cela em que só havia homens adultos? A juíza Clarice Maria de Andrade foi severamente punida pelo Conselho Nacional de Justiça: está sem trabalhar (“em disponibilidade”) mas ganha seu salário direitinho, como se estivesse em plena atividade. A maldição bíblica – “ganharás o pão com o suor de seu rosto” – não a atinge.
Mas não imagine que esta é uma situação provisória, imposta pelo CNJ: já foi confirmada pelo Supremo Tribunal Federal.
Lula, segunda sentença
Com a condenação a 12 anos e 11 meses (esta pelo sítio de Atibaia), Lula acumula pouco menos de 25 anos de pena – e restam ainda sete outros processos. Caso a nova condenação seja confirmada em segunda instância, Lula, mesmo que seja absolvido em todos os demais processos e libertado o mais rapidamente possível, terá quatro anos e alguns meses a cumprir. E o pior, para o PT, é que está havendo dificuldade para mobilizar militantes para manifestações em favor do ex-presidente. Na última, em seu reduto de São Bernardo, com todo o comando petista, não havia nem mil pessoas.
Nos tempos da ditadura
Agora, que está meio na moda negar que tenha havido ditadura militar, vale a pena ler a revista Zumbido, editada pelo SESC: em boa reportagem de Chico Spagnolo e Wagner Amorosino, surgem os pareceres da Censura vetando letras de músicas de que os censores não gostavam.
E é de graça: está no site https://medium.com/zumbido. Vale a pena.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.