Descontrolado, Bolsonaro ameaça Huck ao dizer “o bicho vai pegar para quem fica arrotando honestidade”

Quando um governante recorrer à bizarria e ao deboche para responder a questionamentos ou rebater críticas, algo de errado acontece nos bastidores. Há muito o UCHO.INFO afirma que o presidente Jair Bolsonaro, que pecou enormemente na formação da equipe de governo, poderia, em algum momento, ficar sem o apoio de assessores estratégicos, com especial atenção para os palacianos.

O Brasil vive uma crise múltipla e sem precedentes, fruto dos desmandos protagonizados na última década, período em que o populismo barato foi a tônica do cotidiano. Apesar disso, os governantes de então reagiam a críticas com menos destempero, sendo que muitas vezes as vozes adversas foram ouvidas e consideradas.

Bolsonaro, que não sabe lidar com o contraditório, tem dificuldades para aceitar críticas, pois acredita ser a derradeira solução para os problemas do País. As medidas adotadas pelo atual governo têm se mostrado inócuas ou paliativas, o que dá aos críticos o direito de apontar o indicador na direção dos erros e equívocos oficiais.

O apresentador Luciano Huck, que vem dando largos passos na seara política, fez críticas ao governo de Jair Bolsonaro durante evento na cidade capixaba de Vila Velha. “A gente precisa de gente nova na política, com todo respeito a esse governo. Esse governo foi eleito de maneira democrática. Mas eu não acredito que a gente está vivendo o primeiro capítulo da renovação. Para mim, estamos vivendo o último capítulo do que não deu certo”, afirmou Huck.

Longe de acreditar que Luciano Huck é a tábua de salvação, é preciso reconhecer que a crítica do apresentador é coerente e tem a verdade como base, pois Bolsonaro, que prometeu ser o “novo”, tem se mostrado “mais do mesmo”. Para quem acompanha o jornalismo do UCHO.INFO esse cenário não é novidade, já que há muito alertamos para o despreparo e a falta de estofo de Bolsonaro para cargo de tamanha responsabilidade e relevância.

Acreditando piamente na tese de que a melhor defesa é o ataque, Bolsonaro, que como chefe de Estado deveria ter postura equilibrada, partiu para a retaliação e ameaça, sempre à sombra de informações mentirosas e sensacionalistas, algo que faz a alegria da sua patuleia.


O presidente da República ameaçou o apresentador com a promessa de abrir a “caixa preta” do BNDES na próxima semana, insinuando que Huck usou recursos do banco de fomento para comprar um jato executivo.

“Ele falou que eu sou o último… Como é que é? O último capítulo do caos. Se ele comprou jatinho, ele faz parte do caos”, declarou Bolsonaro ao deixar o Palácio da Alvorada na manhã desta sexta-feira (16). O presidente afirmou também que “o bicho vai pegar para quem fica arrotando honestidade”.

Huck adquiriu um jato da brasileira Embraer, que à época da transação ofereceu ao apresentador linha de crédito por meio do FINAME, do BNDES. Luciano poderia ter adquirido uma aeronave de fabricante estrangeiro, mas preferiu um modelo de empresa brasileira, o que mostra não ser ele “parte do caos”, como afirma o colérico presidente da República.

Se a Embraer conseguiu junto ao BNDES a liberação de crédito por meio do FINAME para alavancar seus negócios, não há qualquer participação dos atores da transação comercial em questão no aludido caos. O que houve, ao contrário do que afirma Bolsonaro, impulsionamento de uma companhia nacional, considerada uma das mais importantes do planeta no setor de aviação.

Ameaça é reação típica de ditadores, comportamento que atenta contra a democracia e o Estado de Direito. Caso Bolsonaro tenha conhecimento de algum ilícito no âmbito do BNDES, o fato de não ter divulgado ou denunciado até o momento configura crime de prevaricação.

Todas as operações de crédito e financiamento do BNDES estão disponíveis no portal da transparência da instituição, respeitada a legislação que trata da inviolabilidade de sigilo bancário e fiscal. Ademais, quando sugere que o apresentador adquiriu uma aeronave de forma ilícita, Bolsonaro está acusando os servidores do BNDES de conluio com a irregularidade. Não obstante, no FINAME, assim como qualquer operação de crédito do BNDES, há sempre uma garantia real para proteger o dinheiro público.

Bolsonaro está a perder o controle facilmente – e de forma recorrente –, o que aponta para a necessidade de um conselheiro coerente e responsável ou de ajuda de algum profissional da área médica. Ou seja, o caso que era de impeachment agora está no universo da interdição.