(*) Carlos Brickmann
Tudo tranquilo? Espere só: ontem de manhã, o presidente Jair Bolsonaro voltou de viagem à Índia. Já criticou pesado o presidente do BNDES (por ter contratado uma auditoria caríssima que não mostrou irregularidades), tomou um chega-pra-lá de Sergio “o candidato sou eu” Moro, recebeu informações oficiais a respeito de mal-educadíssimos bilhetes que teriam sido redigidos pelo general Santos Cruz. Não são dele, como qualquer pessoa que conheça o general sabia desde o começo; e foram encaminhados a Bolsonaro como verdadeiros pelo trio, unidíssimo, Carluxo, Wajngarten e Olavo de Carvalho.
E agora? Já demitiu faz tempo o general Santos Cruz, amigo de 40 anos, e não tem como levá-lo de volta para seu lado. Carluxo, Wajngarten e Olavo são três, mas não formam mais um trio. No caso do BNDES pode até ter razão, mas a quem responsabilizar pelo gasto de R$ 48 milhões? Quanto a Sergio Moro, Bolsonaro está de novo na fase de elogiá-lo. Mas tinha dito que havia convidado Moro só para a Justiça – logo, se quisesse dividir Justiça e Segurança Pública, o ministro não teria do que reclamar.
Moro pisou nos seus calos: Bolsonaro o havia chamado, sim, para unir Segurança Pública e Justiça, já que ambas as pastas, unidas, ganhariam força. Mas Moro é tão bonzinho que garantiu não só que não há motivo para deixar o Governo como assegurou a Bolsonaro seu apoio na luta pela reeleição. Moro é livre para dizer essas coisas. Basta que Bolsonaro acredite em lealdades eternas.
A escala dos desejos
Moro é um homem simples, de Maringá, não parece sonhar com jatinhos ou limusines. Mas deixa claro que ser nomeado ministro do Supremo, como aliás Bolsonaro havia prometido, o deixará muito feliz (de certa forma, é até melhor do que ser presidente: férias maiores, menos trabalho, salário igual, abundância de funcionários para ajudá-los a vestir a toga, a puxar a cadeira para que eles se sentem). Moro diz que ser ministro do Supremo “é uma perspectiva interessante”. Diz também que não há motivo para deixar o Governo – embora não fosse isso o que disse a amigos, há dias, quando Bolsonaro falou em separar Segurança Pública e Justiça, deixando-o apenas com a Justiça e, entre outras coisas, tomando-lhe a Polícia Federal. Por fim, prometeu apoiar o presidente Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2022, sem reivindicar nada, nem mesmo o cargo de vice-presidente.
E se for pouco?
Entre os defensores da separação dos ministérios, há um velho amigo do presidente Bolsonaro: Pancrácio, apelido do deputado federal Alberto Fraga, que o chama de Cavalão e quer ser o ministro da Segurança Pública, entregando o comando da Polícia Federal ao delegado Anderson Gustavo Torres – já sugerido a Moro e vetado por ele. Façamos as contas: Anderson, vetado por Moro, no comando da Polícia Federal (com a queda do preferido de Moro, delegado Maurício Valeixo), um expoente da bancada da bala na Segurança – usufruindo dos bons índices de queda de homicídios, que Moro considera realização de sua equipe.
Feitas as contas, Moro fica ou sai? E, se sair, fica quietinho, cuidando de seu escritório de advocacia, ou se lança candidato à Presidência da República, considerando que sua popularidade é bem maior que a de Bolsonaro?
História antiga
O marechal Eurico Dutra, ministro da Guerra da ditadura Getúlio Vargas, ajudou a depô-lo e, com seu apoio, se elegeu presidente, derrotando um forte adversário, o brigadeiro Eduardo Gomes. Passados mais de dez anos, o marechal Lott, ministro da Guerra de Juscelino, saiu candidato à Presidência, e foi visitar o marechal. Conversaram e Dutra profetizou, com sua péssima dicção: “Oxê num vai ganhá. Oxê num xabe falá”. Lott rebateu: “O sr. se elegeu e não sabe falar”. Dutra completou: “Xim, xó que eu num falava”.
Lott foi derrotado por Jânio Quadros – uma surra histórica.
Admitamos, Bolsonaro não é um grande orador, mas sabe falar e boa parte da população o entende e segue. O que ele não sabe é calar-se.
Risco de tragédia
O número de vítimas do coronavírus se multiplicou na China, já com centenas de vítimas. E, apesar das rígidas providências do Governo chinês, que cercou os locais onde o vírus foi encontrado e proibiu entrada e saída de pessoas, o que se sabe é que a doença cruzou as fronteiras da China e chegou à Europa. Segundo o ministro da Saúde, há casos suspeitos no Brasil. E pelo menos uma família brasileira foi localizada nas regiões bloqueadas da China. Em princípio, não há o que fazer: retirá-la (e isso se os chineses o permitissem, o que até agora não ocorreu em caso algum) seria enviar a família para local se transformasse em agente de contaminação. Houve queda nas Bolsas, sem perspectiva visível de reversão. Há queda no ritmo da produção e dos negócios. Nos Estados Unidos, para reduzir o risco de contágio, o tratamento vem sendo realizado por nanorrobôs.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.
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