Em que pese o direito de cada um de discordar do nosso jornalismo, sempre sério e pautada na verdade dos fatos, cabe-nos lamentar os ataques por parte daqueles que se recusam a aceitar o óbvio, apenas porque sentem-se obrigados a apoiar um presidente da República que é movido pela delinquência intelectual. Alguém em meio à patuleia bolsonarista há de surgir para afirmar que o tom crítico e duro do nosso jornalismo é passível de demandas judiciais, mas estamos tranquilos em relação a isso, principalmente considerando a forma covarde e torpe com que o presidente se dirige aos profissionais de imprensa.
Quando criticamos firmemente ao desafio lançado por Bolsonaro aos governadores para que o ICMS incidente sobre os combustíveis fosse zerado, tendo como contrapartida a eliminação dos tributos federais que recaem sobre a gasolina e o diesel, afirmamos que o presidente mais uma vez mostrou-se incompetente e despreparado para cargo de tamanha relevância, não sem antes confirmar ser um ignorante em questões de economia.
Nesta terça-feira (11), em Brasília, governadores reuniram-se para discutir a proposta canhestra e populista de Bolsonaro, que não cabe em qualquer cenário político-tributário, inclusive na mais rica e avançada economia do planeta. Como o pr3esidente continua alimentando a cizânia no País e precisa jogar para sua plateia, propostas descabidas, típicas de recepção de casa de alterne, continuarão pontuando o cotidiano político, pois essa é a única forma de o chefe do Executivo federal frequentar o noticiário.
Na capital dos brasileiros, os governadores foram uníssonos em desqualificar a proposta presidencial, que em momentos de amenidades foi classificada como “criminosa”. Figadal inimigo político de Bolsonaro, o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, que participou do encontro, disse estar disposto a baixar a temperatura, que ganhou as alturas a partir da estúpida proposta. “Não é momento para sobressaltos. Está claro [o alívio das tensões]. Estamos consertando aqui”, disse Witzel.
Governador do Rio Grande do Sul, o tucano Eduardo Leite ratificou o conteúdo das matérias do UCHO.INFO e afirmou: “Uma fala curta do presidente deflagrou em uma parcela da população uma compreensão equivocada que há a possibilidade de zerar o ICMS, mas só no Rio Grande do Sul temos R$ 6 bilhões em arrecadação com o tributo. Não tem como se falar em zerar o ICMS do combustível”.
Renato Casagrande, governador do Espírito Santo, que já exerceu mandato de Senador e sabe como se desenrola o jogo político no Planalto Central, foi além e disparou: “Foi um constrangimento [a declaração de Bolsonaro], pois somos imediatamente cobrados sobre um tema que não está nas nossas mãos”.
Casagrande ressaltou que o ministro Paulo Guedes (Economia), que participou do encontro com os governadores, tentou minimizar o desgaste provocado pela estapafúrdia declaração do presidente da República, afirmando que só será possível promover mudanças no âmbito dos impostos após a aprovação da reforma tributária, que, é bom lembrar, o governo não tem se empenhado para que isso ocorra. Na verdade, a incumbência mais uma vez foi jogada no colo do Congresso Nacional.
A estupidez de Bolsonaro é reconhecida inclusive por integrantes do próprio governo, como é o caso do ministro da Economia, para quem, segundo o governador capixaba, o desafio, que para Bolsonaro deveria ser imediato, “será de médio ou longo prazo”.
Como mencionamos na abertura da matéria, os aduladores de Jair Bolsonaro têm o direito de discordar do nosso jornalismo e de tecer críticas embasadas nos fatos, mas aceitar ser enganado por razões ideológicas é sinal de subserviência excessiva.