A política nacional começa a avançar no terreno da beligerância, conforme demonstra a queda de braços entre a maioria dos governadores e o presidente da República, Jair Bolsonaro, que insiste em recorrer às declarações polemicas como forma de manter-se em evidência. Até porque, Bolsonaro não consegue existir na esteira da coerência e da parcimônia.
Depois dos recentes e absurdos ataques de Bolsonaro, vinte governadores assinaram uma carta aberta em que criticam o presidente por fazer declarações que “não contribuem para a evolução da democracia no Brasil”. Os chefes dos Executivos estaduais mencionam no documento os recentes comentários do presidente acerca da investigação do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes.
Em clara demonstração de querer sepultar qualquer conexão entre o próprio clã e o miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega, morto recentemente no interior da Bahia, Bolsonaro, de acordo com a carta aberta, antecipa-se “a investigações policiais para atribuir fatos graves à conduta das polícias e de seus Governadores”.
No último sábado (15), o presidente afirmou que o governador da Bahia, Rui Costa (PT), “mantém fortíssimos laços” com bandidos e que a “PM da Bahia, do PT” era responsável pela morte de Adriano da Nóbrega, ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar do Rio de Janeiro. Nóbrega era investigado por participação no esquema das “rachadinhas”, prática criminosa comandada por Fabrício Queiroz e Flávio Bolsonaro.
Sempre a reboque de verborragia insana e revanchista, o presidente também disparou na direção do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, a quem acusou de ser o responsável pelo vazamento do depoimento de um dos porteiros do condomínio Vivendas da Barra, na zona oeste da capital fluminense, que à polícia citou seu nome no âmbito da investigação da morte de Marielle Franco e de Anderson Gomes.
A carta aberta dos governadores também destaca os comentários o irresponsável desafio de Bolsonaro aos chefes dos Executivos estaduais para que reduzissem “impostos vitais à sobrevivência dos Estados”. Recentemente, o presidente da República, em mais um ato populista, disse que zeraria os impostos federais sobre combustíveis se todos os governadores abrissem mão do ICMS sobre a gasolina e o diesel.
O documento cobra que sejam respeitados “os limites institucionais com a responsabilidade que nossos mandatos exigem”. Os signatários da carta aberta destacam: “Equilíbrio, sensatez e diálogo para entendimentos na pauta de interesse do povo é o que a sociedade espera de nós”.
Os governadores também convidam Bolsonaro para participar do próximo Fórum Nacional de Governadores, a ser realizado em 14 de abril.
Assinaram a carta desta segunda-feira, 17, Gladson Cameli (Progressistas-AC), Renan Filho (MDB-AL), Waldez Góes (PDT-AP), Wilson Lima (PSC-AM), Rui Costa (PT-BA), Camilo Santana (PT-CE), Ibaneis Rocha (MDB-DF), Renato Casagrande (PSB-ES), Flávio Dino (PCdoB-MA), Reinaldo Azambuja (PSDB-MS), Romeu Zema (Novo-MG), Helder Barbalho (MDB-PA), João Azevedo (Cidadania-PB), Paulo Câmara (PSB-PE), Wellington Dias (PT-PI), Wilson Witzel (PSC-RJ), Fátima Bezerra (PT-RN), Eduardo Leite (PSDB-RS), João Doria, (PSDB-SP) e Belivaldo Chagas (PSD-SE).
Não assinaram o documento de repúdio ao presidente da República os governadores Ronaldo Caiado (DEM-GO), Mauro Mendes (DEM-MT), Ratinho Júnior (PSD-PR), Marcos Rocha (PSL-RO), Antônio Denarium (PSL-RR), Carlos Moisés (PSL-SC) e Mauro Carlesse (DEM-TO).