Quando o UCHO.INFO, em recente publicação, afirmou que o presidente Jair Bolsonaro pode estar às voltas com a oligofrenia, tamanha é sua insistência em propor absurdos e vociferar sandices, não foi figura de retórica nem rebuscamento redacional. Na verdade, o chefe do Executivo pode ter entrado no torvelinho da caquexia cognitiva, já que seu pensamento foge de maneira recorrente do bom-senso e da parcimônia. Talvez jamais tenha passado perto do universo da lógica e da coerência.
Preocupado com seu projeto de reeleição, o que exige a manutenção da atividade econômica nos pífios patamares pré-coronavírus, e em agradar a massa de ensandecidos apoiadores, em sua maioria integrantes da conhecida elite bastarda e burra, Bolsonaro não desiste de defender o chamado isolamento vertical, como se essa medida tivesse alguma razoabilidade, principalmente em um país como o Brasil, marcado pela desigualdade social.
Disse o escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe: “Não há nada mais terrível do que a ignorância em ação”. Apesar dessa preciosa frase de Goethe, que tão bem traduz a realidade intelectual do governo brasileiro, o presidente da República, cuja ignorância é ambulante e avassaladora, recorre a seus costumeiros pantins para impor à população, goela abaixo, a ideia tosca do isolamento seletivo.
O governo Bolsonaro não tem qualquer estudo técnico que respalde essa proposta absurda, assim como admite que trata-se apenas de “um princípio”. Pelo menos foi dessa maneira que o secretário especial de Emprego e Competitividade do Ministério da Economia, Carlos da Costa, classificou, na manhã desta sexta-feira (26), a proposta de Bolsonaro durante reunião com integrantes dos governos estaduais.
Bolsonaro, como sempre afirmamos, é um despreparado para cargo de tamanha relevância e responsabilidade, sequer consegue imaginar as consequências de sua proposta, que serve apenas para alimentar a queda de braços com os governadores, em especial com João Dória Júnior (SP) e Wilson Witzel (RJ), potenciais adversários na corrida presidencial de 2022.
Na quinta-feira (26), quando questionado sobre como isolar pessoas com mais de 60 anos e portadores de doenças como hipertensão e diabetes sem controle, Bolsonaro, em mais um dos seus costumeiros devaneios, não demorou a surgir em cena com uma solução: alugar hotéis para isolar esse contingente populacional.
O isolamento vertical ou seletivo é uma bomba-relógio programada para explodir, pois no momento em que os mais jovens deixam o confinamento, os idosos e portadores de doenças pré-existentes passam imediatamente à condição de presas fáceis do vírus causador da Covid-19. Isso porque os não isolados retornariam para casa na condição de vetores do vírus e contaminariam os mais vulneráveis à doença.
Para provar que o presidente da República precisa ser interditado e, ato contínuo, urgentemente apeado do cargo, o UCHO.INFO foi a campo para buscar dados sobre esse grupo de risco. Segmentando a busca na cidade de São Paulo, que concentra o maior número de casos do novo coronavírus e de mortes pela Covid-19, descobrimos que há na capital paulista, segundo dados da Prefeitura local, 1,8 milhão de pessoas com mais de 60 anos. Se considerada a recomendação de médicos e especialistas em infectologia e epidemiologia de que pessoas com 50 anos ou mais estão no grupo de risco para o novo coronavírus, esse número salta para 3,3 milhões somente na cidade de São Paulo.
Como o genial presidente Jair Bolsonaro, para levar adiante seu delirante plano, sugeriu que a solução seria alugar hotéis e acomodar as pessoas que estão no grupo de risco, o UCHO.INFO foi buscar informações sobre o número de leitos disponíveis em hotéis e pousadas em todo o Brasil. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2016 havia no País 31,3 mil estabelecimentos de hospedagem, com 1 milhão de unidades habitacionais (suítes, quartos, chalés) e 2,4 milhões de leitos. Entre esses estabelecimentos, 47,9% eram hotéis, 31,9% eram pousadas e 14,2% eram motéis. Os dados constam da Pesquisa de Serviços de Hospedagem (PSH) 2016, realizada pelo IBGE, em convênio com o Ministério do Turismo, para “radiografar” a rede hoteleira nacional.
Pois bem, se em todo o País a rede hoteleira dispõe de 2,4 milhões de leitos, em 1 milhão de quartos ou apartamentos, essa capacidade de acomodação do setor seria insuficiente para isolar apenas a população idosa (60 anos ou mais) da maior cidade brasileira, São Paulo. Sem contar as pessoas com doenças pré-existentes. Mesmo assim, Bolsonaro fala em alugar hotéis para levar adiante o tal isolamento vertical, apenas porque ele quer sair dessa epopeia como o Super-Homem tupiniquim. Ou o brasileiro de bem exige sua saída imediata, ou aceita que o País se transforme na versão direitista da Venezuela.