Ao desistir da demissão do ministro da Saúde, Bolsonaro confirma o que sempre foi: anão político

 
O presidente Jair Bolsonaro vinha agindo como ditador aloprado no caso da crise sanitária provocada pelo novo coronavírus, até que passou a discordar dos procedimentos cientificamente comprovados adotados pelo ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Nesta segunda-feira (6), após ameaçar, na noite anterior, demitir o ministro sem citar o nome do auxiliar, Bolsonaro foi obrigado a rever sua decisão em meio à pressão exercida por dois generais palacianos: Walter Braga Netto (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo).

Na noite de domingo (5), depois das rasteiras ameaças do presidente, Ramos e Braga Netto ouviram do ministro da Saúde que Bolsonaro deveria ser corajoso e demiti-lo, pois em caso de questionamento por parte da imprensa antes da exoneração responderia de maneira dura.

Adepto da política do enfrentamento, prática que cultuou ao longo dos 28 anos em que esteve deputado federal e serviu para alimentar seu nanismo como parlamentar, Bolsonaro é um incompetente em termos políticos que continua acreditando que os outros Poderes da República devem se colocar em posição genuflexa diante do Palácio do Planalto. Não é porque seus aduladores defendem o radicalismo que a democracia será atacada violentamente o tempo todo, colocando em risco o Estado de Direito, a liberdade dos cidadãos e o futuro da nação.

Contrariado em suas posições no tocante ao combate ao novo coronavírus, Jair Bolsonaro acabou encurralado pela dupla de generais palacianos, que ouviram dos presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados que a anunciada demissão de Mandetta azedaria a relação com o Congresso.

 
Sem apoio popular quando o assunto é Covid-19 e criticado por cientistas e especialistas, o presidente da República foi obrigado a recuar em relação à exoneração de Mandetta, pois caso persistisse na ideia correria o risco de ver avançar um dos pedidos de impeachment que continuam estacionados na Câmara dos Deputados. Se até recentemente não havia clima político para discussão da matéria no Parlamento, com o acirramento do embate de Bolsonaro com os governadores o panorama mudou, apesar da chamada turma do “deixa disso”.

A persistente estratégia de Bolsonaro de “esticar a corda” na maior parte do tempo tem como objetivo criar cenário de beligerância institucional e, ato contínuo, abrir caminho para um sonhado “cavalo de pau” na democracia. Porém, antes desse absurdo os Poderes constituídos tomarão as necessárias providências, sempre debaixo do manto legal.

O recuo de Jair Bolsonaro no caso do ministro da Saúde tem efeitos colaterais sérios, mas que podem desparecer em questão de instantes porque o comportamento do presidente não é merecedor de confiança. Mesmo assim, Bolsonaro tornou-se refém dos dois principais generais palacianos – Braga Netto e Luiz Eduardo Ramos – e do Congresso, que a qualquer momento pode mandá-lo de volta para casa, com direito a ficar uma temporada longe da política.

Outro integrante da cúpula do governo que saiu menor do que entrou nesse imbróglio é o chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência (GSI), Augusto Heleno, que não cultiva boas relações com o Congresso e acabou desautorizado pelos colegas de caserna – Ramos e Braga Netto. Esse cenário mostra que tudo é possível na balbúrdia que se formou a partir do combate ao novo coronavírus, mas por enquanto é possível afirmar que Bolsonaro tem-se mostrado muito menor em termos políticos do que sempre foi.

Na política, todo e qualquer ato é calculado de maneira prévia e minuciosa para evitar imprevistos e consequentes aborrecimentos, mas Bolsonaro tem errado a mão quando tenta impor suas vontades, na maioria das vezes absurdas e antidemocráticas. Isso porque sua obsessão em sufocar a democracia é patente.