Ministro da Saúde que tem apoio do titular da Economia é indicativo de congestionamento no necrotério

 
Um médico que sempre trabalhou no setor privado e chega ao comando do Ministério da Saúde com o apoio do ministro da Economia, no caso o economista Paulo Guedes, não é sinal de que viveremos o melhor dos mundos.

Além disso, o novo ministro da Saúde, o oncologista Nelson Teich, calou-se quando o presidente da República afirmou que sempre falou em preservar vidas e empregos. Bolsonaro mentiu ao fazer tal afirmação, pois recentemente, em um dos grotescos episódios em que minimizou a gravidade da pandemia do novo coronavírus, disse: “Alguns vão morrer? Vão, ué, lamento. Essa é a vida”. Nesse momento, Teich deveria ter desmascarado o presidente da República e deixado a cerimônia em que foi anunciado como substituto de Luiz Henrique Mandetta.

Esperar que o novo ministro da Saúde enfrente o a pandemia de Covid-19 com olhar de gestor público é sonhar com o impossível, já que sua trajetória no setor privado da saúde não deixa dúvidas a respeito do que o brasileiro deve esperar ou, então, o quanto deve se preocupar a partir de agora.

A Constituição Federal é clara ao definir que os direitos do cidadão, entre eles o acesso à saúde pública, papel que cabe ao Estado no grau de obrigação, já que a carga tributária nacional está em patamar escorchante.

O UCHO.INFO não defende ações perdulárias no âmbito dos recursos públicos, mas é importante ressaltar que em momentos como o que vivemos não se pode fazer conta para salvar vidas. É sabido que o ministro Paulo Guedes, um liberal que está a serviço do capital e dos banqueiros, se esforça para salvar empresas sob o argumento que é necessário preservar empregos, mas não aceita a ideia de romper o compromisso fiscal para enfrentar a pandemia em todos os setores.

 
Nelson Teich, o novo ministro, que em rápido discurso fez questão de frisar que saúde e economia não são concorrentes, já deu declarações assustadoras em passado recente. Uma delas foi sobre fazer escolhas em ambiente médico-hospitalar quando está-se diante de um paciente idoso e outro jovem.

“Como você tem o dinheiro limitado. Você vai ter de fazer escolhas. Vai ter de definir onde vai investir. Eu tenho uma pessoa mais idosa, que tem doença crônica, avançada. E ela tem uma complicação. Para ela melhorar, eu vou gastar praticamente o mesmo dinheiro que vou gastar para investir num adolescente que está com problemas. Mesmo dinheiro que vou investir. É igual. Só que essa pessoa é um adolescente, que tem a vida inteira pela frente. A outra é uma pessoa idosa, que pode estar no final da vida. Qual vai ser a escolha?”, disse Teich.

No mesmo depoimento, Teich destacou que há dois pontos “importantíssimos” na gestão da saúde. “O dinheiro é limitado e você tem de trabalhar com essa realidade. A segunda coisa, as escolhas são inevitáveis. Quais vão ser as escolhas que você vai fazer? Depois que você tem esse conhecimento de quanto dinheiro você tem e qual a necessidade que você tem de sanar, aí você aloca esse dinheiro”.

Mais recentemente, em evento para a indústria médica, o novo ministro criticou a compra de respiradores por parte do governo federal para tratar pacientes infectados pelo novo coronavírus. Teich disse que passada a pandemia, o sistema público ficará com uma quantidade de respiradores mecânicos além da necessidade.

Acostumado com a medicina privada, que visa somente lucro, o novo ministro sequer conhece a realidade da saúde pública brasileira, que antes do surgimento da Covid-19 já se encontrava em situação caótica. Pouco importa se o governo adquiriu respiradores além da necessidade, já que a ordem no momento é salvar vidas.

Em outras palavras, ou o novo ministro aceitou o convite para fazer o papel de fantoche de Jair Bolsonaro ou a queda de braços com o Palácio do Planalto continuará como antes, mas com novo adversário. Em última análise, que o presidente comece a vestir a carapuça de coveiro-geral da República.