Na posse do ministro da Saúde, Bolsonaro defende reabertura do comércio e dá mostras que embate seguirá

 
O brasileiro deve estar preparado para mais um período de intrigas e quedas de braço entre a ciência e o populismo barato de Jair Bolsonaro, que continua creditando ser o último gênio da raça. No pronunciamento no Palácio do Planalto, na quinta-feira (16), para anunciar que o oncologista Nelson Teich assumiria o comando do Ministério da Saúde, o presidente da República deixou claro que continuará tentando impor suas vontades, como forma de manter em marcha eu projeto de reeleição.

Em um dos trechos do seu discurso vazio e desconexo, Bolsonaro disse: “Sei e repito que a vida não tem preço, mas a economia e o emprego têm que voltar à normalidade. Não o mais rápido possível, como tenho conversado com o Dr. Nelson. Mas ele tem que começar a ser flexibilizado para que exatamente não venha a sofrer mais com isso.”

Que o presidente não escreve, sentado, o que diz em pé o mundo já sabe, mas apostar contra o raciocínio da população é excesso de ousadia. Em primeiro lugar, a vida não tem preço e ponto final. Por isso o “mas” é dispensável. O palavrório fácil e embusteiro de Bolsonaro não convence os mais atentos, que não esqueceram a seguinte frase de sua lavra: “Alguns vão morrer? Vão, ué, lamento. Essa é a vida”.

Em relação a ter conversado com o novo ministro da Saúde sobre a flexibilização do isolamento social, Bolsonaro mais uma vez deixa claro que o País terá de conviver com uma guerra entre a egolatria de um incapaz e a ciência. Se Nelson Teich chegou à Esplanada dos Ministérios disposto a fazer as vontades do presidente da República, que se prepare, pois a opinião pública não lhe dará trégua, exceto a parcela adestrada que bate palmas para Bolsonaro.

Por outro lado, se Teich, cumprindo o que afirmou em seu discurso no Palácio do Planalto, decidir lidar com a pandemia do novo coronavírus com base na ciência, que o ministro se prepare, pois sua permanência no cargo corre o risco de ser curta.

 
Bolsonaro sabe que foi derrotada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que na quarta-feira (15) reconheceu por unanimidade a competência de governadores e prefeitos para decidir sobre medidas restritivas durante a pandemia de Covid-19. Mesmo assim, o presidente da República, em nova demonstração de força, quer desafiar os Poderes constituídos para fazer prevalecer suas vontades.

Na cerimônia de posse de Nelson Teich, nesta sexta-feira (17), o presidente voltou a defender a reabertura do comércio e das fronteiras, como se a pandemia nada representasse. O UCHO.INFO volta a insistir que Bolsonaro tem como única preocupação seu projeto de reeleição, sendo que o discurso que faz em defesa da vida humana é fruto da mitomania.

“Essa briga de começar a abrir para o comércio é um risco que eu corro. Se agravar (a doença) vem ao meu colo. Agora, o que acredito, que muita gente está tendo consciência que tem de abrir”, disse Bolsonaro, que continua jogando para sua insana plateia.

Como argumento para defender a tese tosca de que é possível reabrir o comércio, Bolsonaro mais uma vez recorreu à mitomania, sem ao menos consultar a realidade e seus respectivos números. Disse o presidente no discurso que fez na quinta-feira, no Palácio do Planalto: “Montamos um governo diferente dos montados anteriormente que tem dado resultado. Estávamos praticamente voando no final do último trimestre. Tudo estava indo muito bem. O Brasil tinha tudo para dar certo em um curto espaço de tempo”.

Como de vido respeito que cada esquizofrênico merece, Jair Bolsonaro sofre de esquizofrenia política. Quem acompanha desde sempre a careira política do atual presidente da República sabe da sua obsessão pelo confronto, sem o qual não consegue existir. Afirmar que o Brasil “estava voando” até antes do surgimento do novo coronavírus é devaneio explícito.

Não pode “estar voando” economicamente um país que tem 13 milhões de desempregados, 14 milhões de famílias (42 milhões de pessoas) inscritas no programa “Bolsa Família”, 38 milhões de trabalhadores na informalidade e mais de 34 milhões de brasileiros que solicitaram o “auxílio emergencial”. Em que mundo vivem Bolsonaro e seus ministros?