(*) Gisele Leite
“Que fuja a galope, você marcha, José! José, para onde?”. O poema José, de autoria de Carlos Drummond de Andrade que fora publicado originalmente em 1942, nunca foi tão contemporâneo. O poema exprime o sentimento de solidão e abandono do indivíduo diante da cidade grande, sua falta de esperança e a sensação de que está perdido, sem saber qual caminho seguir.
A luz apagou, o discurso fraudou, a noite esfriou e o povo sumiu. Em plena pandemia de Covid-19, onde já se encontra colapsado os sistemas de saúde pública em diversos Estados, como por exemplo, Amazonas e Rio de Janeiro, surge uma enorme crise política diante de nossos olhos incrédulos.
Não bastassem as bizarrices de praxe, lá vem uma enxurrada de denúncias de crimes de toda espécie de jaez. E, cada vez mais o Messias fica isolado em seu monte nada Olimpo.
Em seu bunker ideológico que propicia fortes quedas de popularidade do presidente, entre os integrantes há o escritor e astrólogo Olavo de Carvalho, considerado como guru do bolsonarismo, não obstante o confronto com os generais do governo.
Até FHC, ex-presidente, considerado um dos mais cultos de toda a história brasileira, recomendou-lhe a renúncia, pois o impeachment seria muito vexatório e doloroso para uma nação já em virose aguda.
Com a queda de Moro, muitos já preconizam na inviabilidade do governo atual. Sergio Moro deixa o cargo de Ministro da Justiça e Segurança Público do atual governo. E, em seu discurso de despedida acusou o presidente de ter cometido os crimes de responsabilidade e de falsidade ideológica.
In verbis: “O presidente me disse mais de uma vez, expressamente, que queria ter uma pessoa do contato pessoal dele, que ele pudesse ligar, que ele pudesse colher informações, que ele pudesse colher relatórios de inteligência, seja o diretor, seja superintendente… E, realmente, não é o papel da Polícia Federal prestar esse tipo de informação”, disse no Palácio da Justiça, em pronunciamento a respeito de sua demissão.
O procurador-geral da República, Augusto Aras pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) para que seja aberto inquérito para apurar as acusações feitas por Moro. E, caberá ao Ministro Celso de Mello dar o aval ao pedido da PGR e instaurar o inquérito. Justamente o decano foi o sorteado. Pelo menos em tese, a fala do ex-Ministro da Justiça já indica crimes como falsidade ideológica, coação no curso do processo, advocacia administrativa, prevaricação, obstrução de Justiça e corrupção passiva privilegiada.
(…) Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
E, agora José?
Um impasse nada poético para uma trágica política em tempo de pandemia.
(*) Gisele Leite – Mestre e Doutora em Direito, é professora universitária.
As informações e opiniões contidas no texto são de responsabilidade exclusiva do autor, não representando obrigatoriamente o pensamento e a linha editorial deste site de notícias.