A democracia brasileira enfrenta um preocupante período de turbulência e ameaças, que deve ser interrompido com máxima urgência como forma de evitar que o País caminha a passos largos na direção do retrocesso e do obscurantismo.
Da fatídica reunião ministerial de 22 de abril, que mais pareceu um encontro de cafajestes, às investidas do presidente Jair Bolsonaro contra seus adversários políticos, passando pela irresponsabilidade genocida do governo em relação à pandemia do novo coronavírus, o Brasil corre o sério risco de mais uma vez ser palco do autoritarismo.
Déspota convicto, apesar de volta e meia falar em respeito à democracia e aos Poderes constituídos, Bolsonaro usa o populismo barato que marca suas incursões para anestesiar a consciência daqueles que ainda o apoiam, o que faz com que essa súcia mantenha-se coesa e chafurdando no cocho da violência e da intimidação.
Adepto da política de enfrentamento, começa a ver o desmoronamento de uma estratégia cujo prazo de validade é muito mais curto do que se imaginava. A guerra declarada contra alguns governadores e prefeitos e a obsessão em ter o controle da Polícia Federal, que tem por dever legal responder apenas ao Judiciário e à Procuradoria-Geral da República, e a proteção criminosa que tenta dar a familiares e amigos faz com que o Estado de Direito esteja sob permanente risco.
Depois da deflagração da Operação Placebo, da PF, que investiga desvios de recursos públicos destinados ao combate à Covid-19 e tem na mira o governo do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, o País está diante de novo escárnio oficial, desta vez tendo como acusador o senador Major Olímpio (PSL-SP), que colocou na linha de tiro o senador Flávio Bolsonaro, filho “01” do presidente da República.
Pressionado por oficiais da Polícia Militar paulista, que cobram lealdade incondicional ao presidente, Olímpio anunciou nesta terça-feira (26) que não concorrerá a novo cargo eletivo após o térmito do mandato parlamentar, em 2026, e chamou Flávio Bolsonaro de “bandido”.
“Todo mundo sabe que meu sonho era disputar o governo em 2022, mas estou fora. Não quero mais me candidatar. Estou enojado com essa situação. Policiais militares estão me cobrando lealdade cega ao presidente. Me chamaram de traíra. Não sou traíra. Quem está desviando conduta é o presidente”, disse o senador ao jornal “O Estado de S. Paulo”.
Olímpio passou a ser cobrado por policiais militares após ter assinado o requerimento de criação da CPI da “Lava Toga”, cujo objetivo era investigar integrantes das instâncias superiores do Judiciário. O senador foi acusado de “traíra” por ter abandonado os compromissos de campanha, mas em arquivo de áudio compartilhado em aplicativo de mensagens o parlamentar se defende da cobrança dos companheiros de farda e diz que quem se desviou foi o presidente da República.
“Quem se desviou foi o presidente (Bolsonaro), que não quis que eu assinasse a CPI da Lava Toga para proteger filho bandido. Eu não tenho bandido de estimação. Isso de palavrão em reunião (ministerial) é besteira. Estou enojado mesmo é com o comportamento que ele adotou e vem adotando. Adotou comigo. Essa negociação com o Centrão por cargo. Essa safadeza que nós tanto lutamos contra. Não quero mais disputar eleição para nada. Estou pendurando as chuteiras. Procurem um novo representante. Não sou gado humano”, disse o senador Major Olímpio na gravação.