Bolsonaro precisa ser parado antes que o Brasil mergulhe nas águas turvas do retrocesso e do obscurantismo

 
O Brasil vive um momento sui generis e extremamente perigoso para a democracia. O posicionamento do presidente da República, Jair Bolsonaro, diante da possibilidade protestos contra o governo tomarem as ruas do País é preocupante, pois aponta na direção do autoritarismo e, como tem afirmado o UCHO.INFO, do “golpe branco”. É importante ressalta que na Venezuela de Hugo Chávez a arbitrariedade começou da mesma maneira, sendo radicalizada pelo tiranete Nicolás Maduro.

Bolsonaro disse, há dias, que os manifestantes que protestaram no último domingo (31) contra o governo e o fascismo são “marginais e terroristas”. O presidente, com essa declaração, deu a entender que pretende monopolizar em favor de seus apoiadores a ocupação das ruas e avenidas brasileiras, como se a Constituição não garantisse o direito à livre manifestação.

O presidente afirmou também que o País não pode enfrentar o que aconteceu recentemente no Chile, onde a população saiu às ruas para protestar contra o governo de Sebastián Piñera. Bolsonaro, um néscio nos mais distintos assuntos e sem capacidade de analisar os fatos, desconhece que no Chile os militares sequer acenam com a possibilidade de apoiar o Palácio de La Moneda em eventual ação contra os manifestantes. No Brasil, os militares falam em respeito à democracia, mas continuam pensando como se estivessem em 1964. Além disso, defendem o presidente da República em suas investidas contra o Estado de Direito.

Como destacou o UCHO.INFO em matéria anterior, a cúpula do governo Bolsonaro vem perdendo o sono com as chances, cada vez maiores, de os protestos ganharem força em todo o País e servirem de impulso para os muitos pedidos de impeachment que estão estacionados na Câmara dos Deputados. Basta que um desses pedidos de impeachment saia da gaveta do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para que o calvário de Bolsonaro comece a funcionar.

 
A preocupação com a reação da sociedade diante de um governo pífio e autoritário vem de longe, mas ganhou contornos extras na fatídica reunião ministerial de 22 de abril, quando o presidente externou seu desejo de armar a população para impedir qualquer ameaça à democracia. Na verdade, o que Bolsonaro quer é intimidar os críticos do governo com a velada ameaça de que se forem às ruas protestar terão de enfrentar apoiadores truculentos e armados.

Na quarta-feira (3), Bolsonaro recebeu para uma reunião, no Palácio da Alvorada, um grupo de caçadores e colecionadores de armas, a quem prometeu flexibilizar as regras para a posse e o porte de armas. Com a corda da crise institucional sendo esticada cada vez mais e a democracia sob ameaça constante, a obrigação de qualquer governante minimamente responsável é evitar o pior, mas o presidente vai na direção contrária, sempre preocupado em garantir sua reeleição.

Como se não bastasse, o presidente da República mantém nos respectivos cargos ministros e assessores que provocam diuturnamente a opinião pública e os outros Poderes constituídos. É o caso de Augusto Heleno, que ameaça o Supremo Tribunal Federal (STF) e depois alega ter sido mal interpretado, Abraham Weintraub, um alucinado que regurgita estultices o tempo todo, e Sérgio Camargo, o racista que preside a Fundação Palmares e atenta constantemente contra os negros.

Além disso, os governadores dos estados precisam estar atentos para o processo de “milicianização” das Polícia Militares, onde há um séquito de simpatizantes de Bolsonaro que tratam os democratas com truculência, enquanto os bolsonaristas são tratados com pompa e circunstância. Que nenhum comandante de qualquer PM venha com o falso discurso em defesa da democracia, pois no último domingo ficou evidente essa sandice no protesto que teve lugar na Avenida Paulista, na cidade de São Paulo. Os que protestavam contra o governo e o fascismo enfrentaram a violência dos PMs, enquanto os apoiadores de Bolsonaro foram retirados do local à sombra de gentilezas.

É preciso que os brasileiros de bem e as autoridades deem um basta a Jair Bolsonaro, antes que o Brasil mergulhe de vez nas águas turvas do retrocesso e do obscurantismo. É inaceitável que a democracia seja aviltada diariamente, enquanto a população, temerosa com eventual reação violenta do governo e seus apoiadores, fica de braços cruzados. Chega!