(*) Carlos Brickmann
O presidente Bolsonaro foi a Águas Lindas, em Goiás, para inaugurar um hospital de campanha que já estava pronto há 40 dias, o primeiro construído pelo Governo Federal para as vítimas da pandemia. Desceu do helicóptero, escorregou e caiu no chão de terra. Levantou-se em seguida, sem problemas.
No fim do ano passado, Bolsonaro já havia tido uma queda, escorregando no banheiro do Palácio da Alvorada e batendo a cabeça. Passou a noite em observação, no hospital. De manhã voltou ao palácio, sem problemas.
Mas piores são as quedas políticas: o presidente Donald Trump, seu ídolo, que antes dele já falava em cloroquina, disse que se os EUA tivessem lidado com a pandemia como o Brasil (e a Suécia), sem uma rígida quarentena, poderiam ter tido de um a dois milhões e meio de mortos, em vez de 105 mil. Justo Trump, que já chamou Bolsonaro de “Trump tropical”. E nosso vice, general Hamilton Mourão, abriu o jogo sobre como Bolsonaro vê o Governo: se o Ministério da Segurança Pública for separado do Ministério da Justiça, o objetivo será “acomodar aliados”, que “trariam um apoio maior para a base governamental dentro do Congresso”. O Centrão sabe seu valor.
Mourão falou também sobre o desempenho do Governo. Diz que deveria ter criado tratado de conter o desmatamento da Amazônia no ano passado, e que o Brasil “perdeu a narrativa do ponto de vista ambiental e é tratado como vilão”. Para quem cai nas pesquisas, perder Trump e ouvir Mourão é terrível.
Firme
Nada disso significa que Bolsonaro esteja à beira da queda, embora seja difícil, com apoio reduzido, retomar os patamares de popularidade em que já esteve. Bolsonaro tem menos de um terço do eleitorado, dificultando, em termos políticos, uma tentativa de impeachment. Talvez metade desse terço seja seu núcleo duro, que não irá abandoná-lo. E a, digamos, conquista do Centrão impede a aprovação do impeachment no Congresso. Bolsonaro é do ramo, mas é difícil que mesmo ele crie uma crise em que perca o cargo.
Olhando o exemplo
Só que, em política, as coisas podem mudar rapidamente. Donald Trump era favorito na luta pela reeleição. Mas a forma pela qual lidou com a pandemia – inicialmente negando-a, depois anunciando que a cloroquina era a solução (o caro leitor não se lembra de algo?) e, numa frase especialmente infeliz, sugerindo injeção de desinfetante para tratar coronavírus – minou sua popularidade. Ficou pouco abaixo do adversário Joe Biden. Veio então o episódio George Floyd, no qual Trump não teve a menor participação. Caiu mais e, nas últimas pesquisas, ficou com 41%, contra 51% de Joe Biden.
Tumultos americanos
George Floyd era um segurança negro, grande e forte, detido por suspeita de tentar passar US$ 20 falsos. Tentou fugir, resistiu, acabou subjugado, com um policial pressionando-o no pescoço. Disse algumas vezes que não conseguia respirar e, após nove minutos de pressão, morreu. O policial, branco, está numa prisão de segurança máxima, acusado de homicídio. Não há qualquer evidência de que tenha morto Floyd de propósito, ou por ser negro. Mas, de qualquer maneira, exagerou. E, por algum motivo, o assassínio incendiou os Estados Unidos: o slogan “Vidas de negros importam” pegou fundo, e tudo virou um protesto violento contra o racismo – protesto em que manifestantes acabaram matando um policial negro. Trump ameaçou colocar o Exército na parada, o que é proibido pela Constituição (e os militares foram os primeiros a dizer isso). A Guarda Nacional atua, mas sob o comando dos governadores, não do presidente.
Os números
Condenar o racismo é sempre válido. Mas saquear lojas e incendiá-las? E vejamos números oficiais americanos (fonte, FBI, relatório sobre 2013). Número de assassínios por milhão de habitantes: negros mortos por brancos, 0,77. Brancos mortos por negros, 9,83. Brancos mortos por brancos, 10,22; Negros mortos por negros, 53,94. Sim, há causas que levam a isso, que têm de ser corrigidas. Mas por que esta morte, justamente esta, inflamou o país?
Terceiro do mundo
O Brasil tem a quinta população do mundo e é hoje o terceiro em mortos pelo coronavírus, atrás apenas de Estados Unidos e Grã-Bretanha. Chegou a esta posição 79 dias depois da morte da primeira vítima do Covid, em 17 de março. A “gripezinha” matou, até quinta-feira, 34.021 pessoas no Brasil. No mundo, já morreram 390 mil pessoas. Especialistas se dividem: há quem diga que a pandemia já reduziu a taxa de contaminação e logo isso irá se refletir em menos casos; há quem diga que vivemos o pico da doença, que logo mostrará sinais de queda; há quem diga que o pico da doença virá daqui para a frente e só começará a cair em agosto.
E há os que temem a volta da pandemia, a “segunda onda”, que atingiria até quem já teve Covid e pensa estar imunizado.
Nós, não especialistas, o que podemos fazer é rezar e torcer.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.
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