A Organização Mundial de Saúde (OMS) ressaltou nesta terça-feira (9) que infectados com o novo coronavírus que não apresentam sintomas da Covid-19, os chamados casos assintomáticos, também transmitem o vírus. O esclarecimento foi feito um dia após a líder técnica do programa de emergência da agência, Maria Van Kerkhove (à direita na foto), dar uma declaração que provocou confusão.
Kerkhove disse na segunda-feira (8) que a transmissão por pacientes assintomáticos parecia ser rara. A declaração causou surpresa e crítica de pesquisadores. A frase também acabou sendo explorada por críticos de medidas de isolamento social, como o presidente Jair Bolsonaro. Uma nova entrevista foi marcada pela OMS nesta terça-feira para esclarecer a questão.
A epidemiologista Van Kerkhove destacou nesta terça-feira que sua fala foi “mal entendida” e afirmou que ao usar a expressão “muito raro” se referia a dois ou três estudos de alcance limitado que tratariam do tema e que ainda se sabe muito pouco sobre a transmissão local. Os especialistas da OMS disseram que dois estudos, um da Alemanha e outro dos EUA, teriam indicado que infectados se tornam mais infecciosos quando começam a sentir sintomas da doença.
A especialista ressaltou ainda que infectados que não desenvolvem sintomas da Covid-19 também podem transmitir o vírus. “Algumas das estimativas apontam que cerca de 40% das transmissões podem ocorrer devido a casos assintomáticos, mas esses são modelos. Não inclui isso na minha resposta ontem, mas gostaria fazê-lo para deixar isso claro”, acrescentou Maria Van Kerkhove.
Em relação aos estudos, a epidemiologista disse que essas informações limitadas mostrariam que os pacientes tendem a ter uma carga maior do vírus quando começam a apresentar sintomas da Covid-19, tornando-se desta maneira mais infecciosos.
O diretor de emergências sanitárias da OMS, Michael Ryan, acrescentou ainda que nem sempre os primeiros sintomas da doença são percebidos, lembrando que o novo coronavírus é transmitido de maneira muito fácil e destacou a importância de medidas de isolamento social.
A declaração de Kerkhove dada na segunda-feira foi criticada por pesquisadores. O presidente Jair Bolsonaro acabou aproveitando a ocasião para criticar a imprensa e defender o fim de medidas restritivas impostas para conter o avanço da Covid-19 no Brasil.
“Esse pânico que foi pregado lá atrás por parte da grande mídia começa talvez a se dissipar levando em conta o que a OMS falou”, ressaltou Bolsonaro. “Quem sabe, após essa declaração, poderemos voltar à normalidade que tínhamos no começo deste ano. Essa informação vai mudar, sim, com certeza, a orientação de governadores e prefeitos sobre isolamento e confinamento”, acrescentou, antes que a OMS esclarecesse a questão.
A fala de Jair Bolsonaro, um populista rasteiro, não passa de mero devaneio de quem não aceita ser contrariado e flerta com o autoritarismo a todo instante. Além disso, a declaração de Bolsonaro aconteceu horas depois de o Tribunal Penal Internacional, em Haia (Holanda), anunciar que começou a analisar a denúncia contra o presidente brasileiro por crime contra a humanidade em razão de sua condenável postura no âmbito do combate à Covid-19.
Autor da representação ao Tribunal, o PDT elencou no documento situações em que o presidente minimizou a Covid-19 e se colocou contra as recomendações de especialistas para conter o avanço da pandemia e minimizar o contágio, como, por exemplo, medidas de isolamento social.
“Ressoa inconteste que as falas irresponsáveis proferidas pelo Presidente da República, sobre o novo Coronavírus, influenciam o comportamento dos cidadãos para o descumprimento das medidas necessárias ao combate do Covid-19”, destaca um trecho da representação. (Com agências internacionais)