Jair Bolsonaro voltou a ser o que sempre foi: teimoso, incoerente e inepto. Não que nos últimos dias esses predicados (sic) tivessem desincorporado da figura do presidente da República, mas a quarentena forçada e a necessidade de amainar o discurso beligerante deram uma falsa esperança ao brasileiro que desconhece os meandros e o jogo da política.
Nesta quinta-feira (16), em mais uma transmissão pela internet, como sempre enfadonha e emoldurada pelo messianismo de camelô, Bolsonaro afirmou que Eduardo Pazuello e Ricardo Salles continuarão à frente dos ministérios da Saúde e do Meio Ambiente, respectivamente, porque são competentes.
Sobre Pazuello, que é general da ativa e deveria passar à reserva se seu desejo é fazer polícia, Bolsonaro afirmou que o militar continuará no cargo porque “o Ministério da Saúde precisa muito mais de um gestor do que de um médico”.
Recomenda-se que no comando da pasta da Saúde esteja um médico ou um profissional da área, mas não é obrigatório, desde que em meio a maior e mais grave pandemia dos últimos cem anos o País não seja palco de um genocídio, apenas porque o presidente da República decidiu politizar a crise sanitária e minimizar a tragédia à sombra de uma guerra ideológica torpe.
Se o Ministério da Saúde carece de um gestor, como disse o presidente, o general Eduardo Pazuello é a pessoa errada no lugar errado. O ministério foi escandalosamente militarizado, com quase 30 militares em postos que exigem competência técnica, mas Bolsonaro insiste que o interino é um excelente gestor.
Essa declaração absurda mostra de forma inequívoca que o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), não errou nem exagerou quando disse que o Exército estava associando-se a um genocídio. A fala de Gilmar provocou uma revolução na cúpula das Forças Armadas, pois, como afirmamos em matéria anterior, os militares querem fazer política e, quando criticados, recorrem à caserna. Abraçados ao ranço do golpe de 64, os militares continuam acreditando que são especiais e estão acima de tudo e de todos, como se a legislação vigente não desmontasse esse pensamento obtuso.
No que tange ao ministro Ricardo Salles, do Meio Ambiente, um néscio que sequer deveria estar à frente da pasta, Bolsonaro disse que ele faz um “excepcional trabalho” e permanecerá no cargo, a menos que queira sair, O presidente cometeu a sandice de afirmar que Salles “faz o possível” para conter o desmatamento. “Pelo tamanho da região amazônica, é difícil conter tudo isso daí”, disse Bolsonaro.
Contrariando os fatos, o presidente negou que Ricardo Salles tenha desmontado a máquina de fiscalização ambiental. Somente alguém descolado da realidade consegue fazer tal declaração, sem se preocupar com a realidade dos fatos..
Sobre o áudio da fatídica reunião ministerial de 22 de abril, divulgado por determinação do STF, o presidente afirmou que Salles, ao dizer que é necessário “passar a boiada”, referiu-se a “desregulamentar muita coisa” do setor agropecuário, não a um passe livre para o cometimento de crimes.
Ora, um ministro que sugere que é preciso aproveitar o fato de a imprensa estar quase que totalmente focada nas questões relacionadas à pandemia do novo coronavírus “para passar a boiada”, não está sugerindo a adoção de medidas legais e coerentes, mas, sim, cumprir os compromissos assumidos durante a corrida presidencial, quando muitos ruralistas, obcecados por terra fértil e barata, despejaram fortunas na campanha.
Como se fosse dono da verdade derradeira e suprema, Bolsonaro se superou em sua bizarrice ideológica e disparou: “Vocês estão com saudades dos ministros da Saúde de Fernando Henrique Cardoso, Dilma e Lula?”.
Diante do escárnio discursivo em que se transformou a enfadonha “live” desta quinta-feira, não é errado concluir que a hidroxicloroquina produz efeitos colaterais que até então os médicos desconheciam.
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