Trump não se compromete com transferência pacífica de poder, caso seja derrotado na eleição

 
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, recusou-se a assumir o compromisso de, em caso de derrota na eleição presidencial de 3 de novembro, patrocinar uma transferência pacífica de poder.

“Vamos ver o que vai acontecer”, disse Trump, ao ser questionado sobre o tema pelo repórter Brian Karem, durante uma entrevista coletiva na Casa Branca, na quarta-feira (23). “Você sabe que venho reclamando em termos muito fortes sobre as cédulas, e elas são um desastre.”

Trump referiu-se aos votos pelo correio, que ele tem criticado com constância. Muitos estados estão apoiando a votação pelo correio por causa da pandemia de Covid-19.

Karem repetiu a pergunta. “Entendo, mas há revoltas nas ruas. O senhor se compromete a garantir que haverá uma transferência pacífica de poder?”

O presidente americano, mais uma vez, recusou-se a responder sim ou não. “Livre-se das cédulas, e você terá uma muito pacífica – bem, não haverá transferência, na verdade. Haverá continuidade. Não há controle sobre as cédulas. Você sabe disso. E você sabe quem sabe isso melhor do que ninguém Os democratas sabem isso melhor que ninguém.”

Críticas dos democratas

O candidato democrata, Joe Biden, mostrou-se incrédulo ao ouvir as declarações de Trump. “Em que país nós estamos?”, questionou.

Mais tarde, Brian Karem comentou nas redes sociais que as declarações de Trump foram a resposta mais assustadora que ele já recebeu a uma pergunta. “Eu entrevistei assassinos condenados que tinham mais empatia. Trump está apoiando uma guerra civil”, afirmou.

 
O líder democrata no Senado, Chuck Schumer, criticou o presidente e disse ver a democracia em perigo. “Presidente Trump: o senhor não é um ditador, e os EUA não permitirão que venha a ser”, escreveu no Twitter.

A União Americana pelas Liberdades Civis também criticou as declarações. “A transferência pacífica de poder é essencial para uma democracia funcional. Essa declaração do presidente dos Estados Unidos deveria perturbar todos os americanos”, afirmou a organização, que tem por missão “defender e preservar os direitos e liberdades individuais garantidas a cada pessoa neste país pela Constituição e leis dos Estados Unidos”.

“Eleição irá parar na Suprema Corte”

Donald Trump, que costuma votar pelo correio, tenta diferenciar entre os estados que enviam cédulas eleitorais para todos os eleitores e aqueles que enviam apenas a quem requisitou, como, por exemplo, a Flórida.

Ele defende que o envio indiscriminado levará a uma ampla fraude na eleição, sem apresentar evidências para isso. Os cinco estados que adotam essa prática não costumam registrar fraudes significativas.

As declarações do presidente sobre uma eventual fraude ocorrem no mesmo momento em que ele pretende nomear uma substituta para a juíza liberal Ruth Bader Ginsburg, que morreu na última sexta-feira (18). Ele prometeu uma nomeação até este sábado, enquanto os democratas defendem que a indicação só deveria ocorrer após a eleição.

A indicação precisa ser confirmada pelo Senado, onde os republicanos têm maioria. Se a indicação de Trump for confirmada, haverá uma ampla tendência conservadora na corte, que tem nove juízes. Isso poderia também favorecer os republicanos caso a eleição presidencial venha a ser contestada. Nesta quarta-feira, Trump disse acreditar que a eleição “irá parar na Suprema Corte”. (Com agências internacionais)

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