O vice-presidente Hamilton Mourão afirmou nesta sexta-feira (13), em entrevista à Rádio Gaúcha, que entende que a vitória do democrata Joe Biden na eleição presidencial dos Estados Unidos e a consequente derrota de Donald Trump “está cada vez mais sendo irreversível”.
Na entrevista, Mourão apontou, no entanto, que essa é sua posição individual e que não estava falando pelo governo. Por outro lado, ele afirmou acreditar que “brevemente” o governo Jair Bolsonaro reconhecerá Biden como presidente eleito dos EUA.
“Como indivíduo, eu reconheço, mas temos que olhar que eu não respondo pelo governo. Como indivíduo, eu julgo que a vitória do Joe Biden está cada vez mais sendo irreversível”, disse Mourão. “Brevemente acho que vai acontecer isso [o reconhecimento pelo governo]. E acho que não há uma tensão entre as duas nações, é mais um fogo de palha”, completou.
O democrata Joe Biden venceu as eleições nos EUA no último sábado, após cruzar a marca de 270 votos no Colégio Eleitoral, segundo várias projeções. No entanto, o governo Bolsonaro vem se mantendo em silêncio sobre o resultado, em contraste com dezenas de outros países, incluindo aliados dos EUA, que já parabenizaram Biden e sua vice, Kamala Harris.
Apenas poucas nações – Brasil, Rússia e Coreia do Norte – ainda permanecem em silêncio. Nesta semana, China e Turquia, que vinham evitando tomar posição, acabaram por reconhecer Joe Biden como presidente eleito.
Bolsonaro, por enquanto, segue em silêncio, mas também vem dando sinais de que ficou desapontado com o desfecho da eleição norte-americana, o que lhe coloca em um cenário de isolamento político-ideológico no cenário internacional. Na quinta-feira, seis dias após o anúncio do resultado, Bolsonaro disse em tom de deboche: “Mas já acabou, já acabaram as eleições?”.
Tal declaração foi um sinal de que o presidente que espera que recontagens ou processos judiciais ainda possam reverter o resultado e dar continuidade ao governo de Donald Trump, que não reconhece a derrota e vem tumultuando o processo de transição.
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Na terça-feira (10), Bolsonaro também demonstrou sua contrariedade com um governo Biden ao insinuar que pode ter que recorrer a uma demonstração de força militar para driblar eventuais sanções econômicas impostas pelo futuro presidente democrata em resposta ao desmatamento desenfreado da Amazônia.
Redes ligadas à família Bolsonaro na internet também vêm espalhando que a eleição americana não acabou e que o vencedor só é oficializado em dezembro. Várias contas também vêm propagando as acusações sem provas do republicano de que o pleito foi marcado por fraudes.
Em novembro de 2016, quando ainda era deputado federal, Bolsonaro parabenizou Trump pelo Twitter poucas horas depois do anúncio da primeira projeção que apontou a vitória do republicano, sem esperar pela oficialização do resultado em dezembro.
Durante a campanha eleitoral de 2020, Bolsonaro chegou a afirmar publicamente que torcia pela reeleição de Trump e, na última semana, quando a contagem já sinalizava que Trump seria derrotado, o brasileiro disse que a “esperança é a última que morre”. Apelidado de “Trump dos trópicos” por seu estilo tosco e radical e pela afinidade com o homólogo americano, Bolsonaro promoveu durante seu governo um alinhamento incondicional com os EUA.
Contudo, a simpatia de Bolsonaro não se limitou às falas. Seu governo chegou a dar ajuda indireta para a campanha de Trump, como na visita do secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, ao estado de Roraima, próximo da fronteira da Venezuela, em setembro. A viagem foi encarada como um gesto para a comunidade latina antichavista do estado da Flórida. A visita de Pompeo a Roraima foi alvo de críticas do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que apontou que a vinda do americano não era apropriada a menos de 46 dias da eleição nos EUA.
Bolsonaro não é o único membro do governo que é fã de Trump. Seu ministro das Relações Exteriores, o ultraconservador Ernesto Araújo, já chegou a comparar Trump com uma espécie de cavaleiro medieval que salvaria o Ocidente.
Os filhos do presidente, que têm forte influência sobre o governo do pai, também são admiradores do republicano. Em 2018, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) chegou a aparecer publicamente com um boné “Trump 2020” durante uma visita a Washington, depois que seu pai já havia sido eleito. (Com agências de notícias)
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