A briga pelos dividendos políticos da vacinação contra a Covid-19 continua no Brasil, contrapondo o presidente Jair Bolsonaro e o governador João Dória Júnior, de São Paulo. Enquanto Bolsonaro interfere politicamente no Ministério da Saúde e na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Dória insiste em afirmar que a vacinação em São Paulo começará no próximo dia 25 de janeiro.
Ciente de que a vacina pode dar a Dória munição político-eleitoral para 2022, Bolsonaro tenta criar dificuldades para atrasar ao máximo a aprovação da Coronavac, vacina produzida pela farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, como se milhares de vidas não devessem ser poupadas.
Nesta segunda-feira (14), a Anvisa anunciou que a aprovação do uso emergencial de qualquer vacina demorará dez dias, a contar do recebimento de todos os dados relativos aos ensaios clínicos do imunizante. A agência afirmou que o fato de uma vacina ser aprovada em um dos quatro órgãos reguladores internacionais, considerados referência por pesquisadores e pela OMS, não significa que a vacina será automaticamente no Brasil, como prevê Lei da Covid-19.
Enquanto em Brasília os subservientes a Bolsonaro criam dificuldades, em São Paulo o governador continua disparando na direção do Palácio do Planalto. Nesta segunda-feira, Dória chamou o governo Bolsonaro de “negacionista” e “extremista” ao comentar vídeo divulgado no Youtube pelo Ministério da Saúde, no qual o secretário-executivo do Ministério da Saúde, Élcio Franco, ataca o governador paulista e afirma que é “mais um devaneio” e que ele [Dória] está “sonhando acordado” ao anunciar o início da vacinação em janeiro.
“Temos assistido nos últimos dias novos exemplos do negacionismo do governo federal e de extremistas também. Infelizmente, aqueles que até pouco tempo menosprezavam o vírus, classificando como ‘gripezinha’, ‘resfriadozinho’, agora passaram a criticar o esforço para a vacinação dos brasileiros”, rebateu Joao Dória.
“São os mesmos que imaginavam que iam resolver essa gravíssima crise de saúde no país com a cloroquina [medicamento sem eficácia comprovada defendido pelo presidente]”, completou o governador.
Goste-se ou não do governador de São Paulo, é preciso reconhecer que Dória emparedou Bolsonaro na questão da vacina contra a Covid-19, obrigando o presidente da República não apenas a mudar de postura, mas a tomar medidas para conter o avanço da pandemia do novo coronavírus, algo que, tudo indica, só será possível com a vacinação em massa.
Fato é que, politização à parte, a saúde e a vida dos brasileiros devem ser prioridade para qualquer governante, não importando questões partidárias ou ideológicas. A população não pode ficar à mercê de uma disputa eleitoral antecipada, como se a vida nada valesse.
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