Incompetente conhecido e amargando fracassos nas áreas política e econômica, o presidente Jair Bolsonaro não mais surpreende com suas declarações toscas e decoladas da realidade. Na manhã desta terça-feira (12), em conversa com apoiadores que se aglomeram na entrada do Palácio da Alvorada, Bolsonaro decidiu comentar a decisão da Ford de não mais produzir automóveis no País.
Como forma de camuflar o fiasco do governo, o presidente da República acusou a montadora norte-americana de “não falar a verdade” e de querer mais subsídios, como se essa prática não fosse comum e extensiva a todas as montadoras.
“Lamento os cinco mil empregos perdidos. Mas o que a Ford quer? Faltou a Ford dizer a verdade. Querem subsídios. Vocês querem que continuem dando R$ 20 bilhões para eles, como fizeram nos últimos anos? Dinheiro de vocês, do imposto de vocês”, declarou Bolsonaro, um néscio em termos econômicos.
“Ford anunciou a saída do Brasil. São cinco mil empregos. O que a imprensa faz? A capa do Globo: ‘falta de ambientes de negócios, Ford sai do Brasil’. Há três anos a Ford anunciou que não ia mais produzir carro de passeio nos Estados Unidos. Falta de ambiente de negócio, na verdade, eles tiveram subsídio nosso nos últimos anos, de R$ 20 bilhões”, emendou o presidente, sem convencer os que de fato entendem de economia.
“Repito: lamento os cinco mil empregos perdidos. Quem é chefe de família sabe o problema que causa para dentro de casa. Agora, negócio é negócio. Deu lucro? O cara fica aqui. Não deu lucro? O cara não produz mais aquilo, fecha”, completou.
A falta de incentivos não foi preponderante para que a Ford decidisse interromper a produção de veículos no Brasil, mas um ambiente econômico desfavorável, agravado pela pandemia do novo coronavírus e pelas promessas lunáticas e vazias do ministro Paulo Guedes (Economia). Além disso, nenhuma empresa deve insistir em operação não rentável. Nos últimos anos, a Ford Brasil recorreu ao caixa da matriz para manter suas atividades no País.
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Ainda na campanha presidencial de 2018, Bolsonaro disse ser o único candidato capaz de solucionar os muitos problemas do País. Em seguida, após a vitória nas urnas, o então presidente eleito apresentou Paulo Guedes à opinião pública como um mago capaz de destravar a economia nacional, a ponto de ser chamado de “Posto Ipiranga”, em alusão ao mote da campanha publicitária da rede de postos de combustíveis homônima.
Bolsonaro, como cidadão, tem o direito de externar o próprio pensamento, mesmo que esdrúxulo, mas na condição de chefe do Executivo federal não pode induzir a sociedade a erro. O atual cenário econômico do País é desfavorável a investimentos, sem contar a estagnação da renda do trabalhador, a carga tributária escorchante e a incapacidade do governo de aprovar reformas estruturais. Essas ações, se levadas adiante, melhorariam sobremaneira o ambiente de negócios no Brasil.
Beira a irresponsabilidade falar em recuperação econômica – principalmente em “recuperação em V” – em um país cuja maioria da população (dois terços) recebe menos de dois salários mínimos mensais. Além disso, é estratosférica a disparidade entre o valor do salário mínimo vigente (R$ 1.100,00) e a renda mínima ideal (R$ 5.300,00), calculada pelo Dieese.
Não obstante, o fim do auxílio emergencial, adotado durante a primeira fase da pandemia, levará a economia brasileira a enfrentar mais dificuldades para sair do atoleiro. Isso porque já estão sem a única fonte de renda.
Outro fator desfavorável é o alto índice de desemprego, que em novembro, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Mensal (PNAD Contínua), do IBGE, ficou em 14,6%, o que representa 14,1 milhões de trabalhadores sem ocupação.
Para se ter ideia do fiasco em que se transformou a política econômica do governo Bolsonaro, no terceiro trimestre de 2020 registrou a entrada de 1,3 milhão de trabalhadores na fila do desemprego. Isso significa que no período a desemprego cresceu o equivalente a 260 decisões da Ford, que prevê a demissão de 5 mil trabalhadores.
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