A aprovação em caráter emergencial da Coronavac pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) levou o presidente Jair Bolsonaro ao descontrole, principalmente porque é incontestável sua derrota política para o governador João Dória Júnior (PSDB), de São Paulo.
Esse cenário foi suficiente para que Bolsonaro recolocasse em cena sua essência neofascista, durante contato com apoiadores que diariamente o aguardam na entrada do Palácio da Alvorada, em Brasília. Visivelmente irritado com a derrocada no espectro da vacinação, mas tentando aparentar tranquilidade, Bolsonaro voltou a ameaçar a democracia.
Ao dirigir-se aos apoiadores, o presidente disse, nesta segunda-feira (18), que cabe às Forças Armadas decidir se um povo vive sob uma democracia ou uma ditadura. Bolsonaro afirmou que o Brasil ainda tem liberdade, mas que “tudo pode mudar” se a população não reconhecer o valor dos militares.
O presidente fez tal afirmação ao comentar o fornecimento de oxigênio da Venezuela para Manaus, não sem antes ressaltar que a oferta partiu da White Martins, multinacional brasileira que também atua no país vizinho. Bolsonaro aproveitou para criticar o presidente venezuelano, Nicolás Maduro.
“Agora, se o Maduro quiser fornecer oxigênio para nós, vamos receber, sem problema nenhum. Agora, ele poderia dar auxílio emergencial para o seu povo também, né? O salário mínimo lá não compra meio quilo de arroz. Não tem mais cachorro lá, por que será? Alguma peste? Comeram os cachorros todos. Comeram os gastos todos. E vem uns idiotas, eu vejo aí, elogiando ‘olha o Maduro, que coração grande ele tem’. Realmente, daquele tamanho, 200 quilos, dois metros de altura, o coração dele deve ser muito grande. Nada mais além disso” afirmou, levando seus apoiadores às gargalhadas.
Era esperado que Bolsonaro recorresse a declarações absurdas e radicais depois do fiasco em relação ao combate à Covid-19, mas suas ameaças à democracia não encontram eco na cúpula das Forças Armadas nem nos Podres constituídos, os quais poderão em breve acionar o botão do impeachment.
Querer camuflar a derrota política que surgiu na esteira da aprovação da Coronavac é desespero tácito, principalmente se considerado o fato de que os argumentos para os ataques estão calcados sobre questões meramente ideológicas. Isso prova a peçonhenta incompetência de Bolsonaro, que tenta usar ameaças à democracia como forma de intimidar adversários políticos e instituições.
Insano em suas declarações, Jair Bolsonaro ponderou que “o pessoal parece que não enxerga o que o povo passa, para onde querem levar o Brasil”, destacando o socialismo como meta de seus opositores, algo que sequer consta da estrutura programática dos partidos de esquerda brasileiros.
“Por que sucatearam as Forças Armadas ao longo de 20 anos? Porque nós, militares, somos o último obstáculo para o socialismo. Quem decide se um povo vai viver na democracia ou na ditadura são as suas Forças Armadas. Não tem ditadura onde as Forças Armadas não apoiam. No Brasil, temos liberdade ainda. Se nós não reconhecermos o valor destes homens e mulheres que estão lá, tudo pode mudar”, afirmou.
Além da sua devastadora covardia, Bolsonaro escora-se na mitomania para ludibriar a massa ignara que o apoia. Se as Forças Armadas do País viveram período de glória em termos orçamentários, por certo foi nos governos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Para completar o desvario discursivo, Bolsonaro sugeriu que se o presidente da República fosse o petista Fernando Haddad, um integrante da esquerda poderia estar à frente do Ministério da Defesa. O presidente citou nomes como João Pedro Stédile, fundador do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST); José Rainha Júnior, ex-líder do movimento; e o ex-presidente Lula da Silva.
Faz-se necessário salientar que a pasta da Defesa já esteve sob o a batuta de Aldo Rebelo, figura histórica da esquerda brasileira e com quem os militares brasileiros têm excelente relação.
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