Após admitir que sabia da falta de oxigênio em Manaus desde 8 de janeiro, Pazuello deveria ser demitido

 
A crise que se instalou no sistema público de saúde de Manaus, levando à morte por asfixia pessoas que estavam internadas para tratamento contra a Covid-19, mas sucumbiram diante da falta de oxigênio nos hospitais, é motivo mais que suficiente para derrubar o governo Bolsonaro, mas os políticos brasileiros, que poderiam decidir sobre um processo de impeachment, preferem continuar flertando com o “faz de conta”.

Ministro da Saúde, o general Eduardo Pazuello admitiu nesta segunda-feira (18) que estava ciente desde o último dia 8 da possibilidade de mortes ocorrerem no Amazonas por causa da incapacidade das produtoras e distribuidoras de oxigênio de atenderem à demanda elevada dos hospitais.

“No dia 8 de janeiro, nós tivemos a compreensão, a partir de uma carta da White Martins, de que poderia haver falta de oxigênio se não houvesse ações para que a gente mitigasse este problema”, disse o ministro durante entrevista coletiva concedida em Brasília, ao lado do governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC).

“Mas aquela foi uma surpresa tanto para o governo do estado como para nós. Até então, o assunto oxigênio estava equilibrado pela própria empresa”, afirmou o general, que cada vez mais balança no cargo.

Pazuello afirmou que o célere e repentino aumento das internações por Covid-19 surpreendeu e “o consumo [de oxigênio] triplicou, quadriplicou, quintuplicou”, sendo que a produção de gases medicinais no estado não conseguiu acompanhar a demanda.

 
Na mesma entrevista, Pazuello afirmou que o abastecimento de oxigênio no Amazonas está “equalizado”, mas não é essa a realidade dos fatos. O anúncio feito por Pazuello é fruto de determinação do ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), para que o governo, em no máximo 48 horas, fornecesse oxigênio e insumos ao estado do Norte do País, assim como apresentasse plano de abastecimento do sistema de saúde local.

O general Pazuello, cujo currículo destaca especialidade em logística, tinha ciência do perigo que rondava os hospitais amazonenses, mas no último dia 11 foi a Manaus para tentar convencer os médicos a adotarem o chamado “tratamento precoce”, que consiste em ministrar ao paciente de Covid-19 medicamentos sem eficácia cientificamente comprovada contra a doença causada pelo novo coronavírus.

Se o ministro da Saúde sabia do problema desde 8 de janeiro e três dias depois esteve na capital amazonense para proselitismo barato que contraria a ciência, o mínimo que poderia acontecer com o general Eduardo Pazuello é responder por crime de responsabilidade e prevaricação, talvez por homicídio culposo (quando não há intenção de matar), já que mortes ocorreram por conta de sua irresponsabilidade.

Alegar, depois da consumação da tragédia anunciada, que o abastecimento de oxigênio no Amazonas está regularizado é deboche oficial. Caso o presidente Jair Bolsonaro tivesse doses rasas de coragem, como ele próprio insinua, Pazuello já teria sido demitido. Como o Brasil é o “país da piada pronta”, como vaticina o jornalista José Simão (Folha e BandNews), o general continuará brincando com a vida dos brasileiros que têm direito a serviços de saúde minimamente dignos na rede pública.

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